FBM Convida

Quase duas horas deliciosas com Chico Buarque <3

12528158_1008734992518026_27932717_n

Está mais que na hora do Fila Benário Music “contratar” a jornalista, professora e editora do blog Formando Focas, Patrícia Paixão, para o seu time de colunistas e colaboradores, já que essa é a terceira colaboração consecutiva da mesma na coluna FBM Convida.

No texto de hoje, Patrícia, Fã assumida e incontrolável da vida e obra de Chico Buarque, conta a experiência ao assistir o documentário Chico – Artista Brasileiro, dirigido por Miguel Faria Jr.

O relato é fantástico e você acompanha aqui e agora.


 

Por Patrícia Paixão

Imagine conhecer detalhes e segredos da trajetória e do dia a dia de Chico Buarque? Presenciar cenas dele com seus netos, saber como ele lida com a solidão, em que mesa costuma se sentar para fazer suas criações, como é o seu processo criativo, em que contexto criou determinadas canções.

Um grande presente para quem é fã desse homem, não é mesmo?

Pois é exatamente isso que o filme “Chico – Artista Brasileiro”, de Miguel Faria Jr., proporciona.

No documentário, de 1h50, Miguel Faria Jr. consegue trazer a intimidade que tem com Chico (é amigo dele) para os admiradores do cantor.

É possível descobrir um artista divertido e solto, para além da timidez que o grande público conhece. A sensação é a de que Chico está tendo um bate-papo descontraído com você, a ponto de gargalhar incontrolavelmente. Sensacional!

Um grande perfil do artista é apresentado. O filme ajuda a entender como o músico, que gosta de se definir como “escritor”, foi construindo sua trajetória, se transformando em um dos principais nomes do nosso meio artístico.

Chico cresceu em um ambiente bastante propício, e o documentário mostra como esse cenário, somado ao incontestável talento do artista, foi importante para a construção de sua carreira e de sua pessoa. Seu pai, um dos maiores pensadores da contemporaneidade brasileira, o historiador e jornalista Sérgio Buarque de Holanda, lhe proporcionou uma vida rodeada de livros, experiências internacionais e convívio com grandes nomes da nossa cultura. Chico aprendeu diversos idiomas, morou no exterior algumas vezes e teve contato próximo com expoentes como Manuel Bandeira. Sua amizade com Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Edu Lobo, Toquinho, Caetano Veloso, Maria Bethânia, dentre outros artistas, tornou sua trajetória ainda mais fértil. É impressionante a forma como muitos desses profissionais elogiam Chico e o qualificam como uma joia rara no cenário nacional. Vários deles dizem que é uma enorme responsabilidade trabalhar com o artista, pela sua grande envergadura.

Foto histórica: Manuel Bandeira, Chico Buarque, Tom Jobim e Vinícius de Moraes
Foto histórica: Manuel Bandeira, Chico Buarque, Tom Jobim e Vinícius de Moraes

O filme não é apenas interessante por revelar a construção da carreira de Chico Buarque e suas intimidades. É um documentário para quem desejar também aprender mais sobre quanto a duras penas se deu o processo de democratização do nosso país.

Muito interessante o trecho em que Chico revela como suas músicas eram vetadas ou tinham termos trocados pelos censores da ditadura. Chico era “vendido” pelos militares e pela imprensa da época como um dos principais líderes do movimento de oposição, no campo musical. Interessante perceber como ele desaprova algumas de suas canções feitas naquele período, pelo fato delas terem sido motivadas por um sentimento de vingança, de revolta contra o quê os militares faziam com o país. “Tudo que é feito com raiva não fica bom”, diz o artista no filme, revelando que “chega uma hora em que enche o saco compor só sobre política. Você quer escrever sobre outras coisas”.

O filme também é um show. Sim, você se sente literalmente assistindo a um show. De tempos em tempos a narrativa é pausada para apreciarmos a cena de artistas talentosos cantando músicas do Chico. Alguns consagrados, como Ney Matogrosso. Outros menos conhecidos do grande público, como a fadista Carminho.

A estética é belíssima: imagens incríveis do Rio de Janeiro, cidade que Chico escolheu carinhosamente para morar; a suave voz da narradora que lê trechos do livro de Chico (“O Irmão Alemão”, lançado em 2014); os vídeos e as imagens preciosas da infância do cantor.

Impossível não se emocionar em vários momentos e não chorar no trecho em que Chico é perguntado sobre como quer ser lembrado. Ele responde simplesmente que não pensa nisso. Mas, inevitavelmente, quem acaba pensando nisso, e muito, é o público, que se imagina assistindo àquele filme de novo, em um dia em que o cantor não estará mais vivo. E o pensamento que vem é: Meu Deus, esse homem não pode morrer!

Em cada revelação sobre a vida e a obra de Chico, sobre como suas músicas se tornaram sucesso em outros países, sobre como sua obra foi importante para ajudar a construir a democracia no nosso país, sobre como ele entende a alma feminina como ninguém, com suas letras que parecem ter sido escritas por mulheres, sobre como ele (e isso vem de seus pais) é consciente em relação às desigualdades sociais do nosso país, mesmo pertencendo à elite, tem-se a certeza: ESSE HOMEM PRECISA SER ETERNO. O BRASIL FICARÁ MAIS POBRE SEM ELE.

E ele mesmo não pensa assim. Um Chico sensato e consciente não concorda com quem fala que a música da época dele era melhor que a de hoje. Vê muita coisa boa no cenário atual e acha que coisas melhores estão por vir. Diz que a música do passado era muito elitista e que hoje conseguirmos ver muito mais o povo na música brasileira. Critica quem diz que a música hoje é brega. “Não é brega é a cara do nosso povo”, opina, acrescentando que isso é muito bom, pois é sinal de que uma pequena minoria endinheirada não consegue mais ditar os gostos musicais do Brasil inteiro.

Ele conta como às vezes é doloroso o processo criativo e revela já ter feito terapia em momentos em que não conseguia criar. Diz que só deve compor as canções do seu novo disco em 2017. Nesse momento, eu, particularmente, quase tive um colapso, pois, se ele vai lançar as canções em 2017, seu próximo show só acontecerá daquele ano em diante e EU PRECISO VÊ-LO ANTES DISSO! (a louca rs).

Ainda bem que ele vai comandar o Show de Verão da Mangueira em 27/01/16. Já garanti o meu ingresso. Não perco um show deste homem!

Cartaz do "Show de Verão da Mangueira" comandado por Chico Buarque
Cartaz do “Show de Verão da Mangueira” comandado por Chico Buarque

Enfim, assistir ao filme “Chico – Artista Brasileiro” é também, inevitavelmente, lembrar daquele IMBECIL que chamou Chico de “merda” (SIC) no Leblon (leia a matéria completa do caso aqui). Que vontade de encontrar com aquele escroto pra dizer: “Cara, lave a boca pra falar do Chico Buarque. Vá estudar, vá se informar! Se você hoje pode fazer qualquer tipo de protesto é por que caras como o Chico lutaram arduamente contra a ditadura, foram perseguidos, foram censurados! E ele é um cara da elite preocupado com os que nada têm. Quem é você pra falar dele????” (pessoa já se imaginando batendo boca rs)

Por fim, agradeço muuuuuuuuuuuuuito ao cineasta Miguel Faria Jr. por esse presentão que me proporcionou. E, como boa chicólatra, terminei o filme ao lado de várias outras “chiquetes” aplaudindo efusivamente, sob o olhar envergonhado do meu respectivo. Ele também adora o Chico, mas quer ficar bem longe de mim, quando dou meus ataques de “chicólatra” hahaha

#AMORETERNOPORESSEHOMEM


3 - Patrícia

 

Patrícia Paixão é Jornalista, Professora Universitária na FAPSP e editora do blog Formando Focas

Deixe um comentário