Fila Benário Fala

Por um mundo com mais Gabrielle Aplin e menos Katy Perry

1

Há tempos eu estava planejando escrever sobre Gabrielle Aplin, uma cantora britânica sensacional que canta e encanta a todos com a sua voz de pássaro, mas que não causa nem cócegas no mercado mainstream que prefere voltar às suas atenções para produtos musicais pré-fabricados como Katy Perry. E a oportunidade surgiu agora devido a dois impulsos pessoais: O primeiro por hoje ser aniversário de uma grande amiga minha que tem a voz semelhante à de Gabrielle, a Aline Marini. E por fim justamente para explicitar o abismo sonoro existente entre Aplin e artistas pitorescas como a própria Katy.

Nascida na cidade de Bath, na Inglaterra, a jovem Gabrielle Aplin, de apenas 22 anos (no próximo sábado ela completará 23) tem como pilar de sustentação sonoro a Folk Music que fez de Bob Dylan o rei e Joni Mitchel a rainha. Alias ambos são as principais influencias da garotinha que ainda cita Leonard Cohen, Bruce Springsteen e Neil Young no seu caldeirão musical.

Como a grande maioria dos músicos de sua geração, Gabrielle Aplin foi descoberta através de vídeos hospedados por ela na internet no qual fazia versões Folk de canções Pop do momento, com uma versão de Teenage Dream da supra citada Katy Perry.

Os vídeos chamaram a atenção da gigante Parlophone que rapidamente assinou com a guria e no ano de 2013 ela lançaria o seu debut álbum English Rain.

English Rain é um oásis em meio ao deserto que se encontra a música pop atual. Tá, não se trata de um disco revolucionário, inovador e um divisor de águas. No entanto ele soa autêntico e real, ao lado de tanta porcaria consumida e gerada no mercado musical recentemente.

Gabrielle Aplin compõe as suas próprias canções, indo na contramão de Katy Perry que tem a maioria dos seus singles escritos por produtores como Dr. Luke e Max Martin, produtores musicais que estão por trás de sucessos interpretados por Britney Spears, Rihanna, Ke$ha, Miley Cyrus, Shakira, e entre outras chamadas erroneamente de Divas.

O violão, principal instrumento e alma da música Folk, aparece nas 12 faixas do disco de forma sublime e criando uma textura perfeita para voz pequena, sutil e delicada de Gabrielle.
Os principais destaques de English Rain são Panic Cord, que já abre o disco com ar de single de sucesso. Keep on Walking, Please Don’t Say You Love Me, How Do You Feel Today?, Ready To Question e a “popíssima” Human são outros destaques.

Na metade de setembro desse ano, Gabrielle Aplin lançou o seu Segundo disco, Light Up the Dark, que acaba se desprendendo das amarras do Folk Fofo de English Rain e embarca e outras nuances sonoras como o próprio Rock e a Soul Music, como é o caso da faixa título que chega pulsante e magistral.

Porém, a mesma queixa que registro aqui já foi feita nesse mesmo espaço no ano anterior (aqui), só troco as peças. Se em outrora eu me referia a Sara Bareilles como a diva não reconhecida, hoje conclamo Gabrielle Aplin nessa vexatória realidade.

Me dói muito ver uma artista com toda essa competência musical, que compõe as suas próprias canções, que canta e toca de verdade nos shows sem o auxílio de recursos e que vai simplesmente além do “musicas para se divertir e dançar”, passar ilesa e ser desconhecida do grande público.
Se na Inglaterra, seu país de origem, ela consegue escrever o seu nome dia-a-dia no arco da música Pop, na America o seu nome ainda soa desconhecido e a sua canção passa despercebida.

Até quando o mercado mainstream irá fazer vista grossa para o que realmente deve ser valorizado e cultuado. Até quando a juventude que consome esse tipo de música vazia, plástica, “colorida e com gosto de isopor”, como já cantava Dead Fish, vai realmente se curvar para uma canção feita com autenticidade e veracidade.

Se era por falta de conhecimento ou incentivo, não queixem mais, aqui está Gabrielle Aplin, ouça sem moderação e seja feliz.