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Livro: Vale Tudo: O Som e A Fúria de Tim Maia (Nelson Motta)

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Estreou ontem nos principais cinemas do país o filme Tim Maia, cinebiografia do maior artista brasileiro de todos os tempos, dirigida por Mauro Lima (Meu Nome Não é Johnny e Reis e Ratos). Filme conta com os atores Robson Nunes e Babu Santana interpretando Tim em sua adolescência e na fase adulta e de sucesso, respectivamente.

Cartaz

E paralelo ao lançamento do filme, eu finalmente consegui realizar um grande sonho pessoal (com sete anos de atraso) que foi ler a biografia Vale Tudo – O Som e A Fúria de Tim Maia, escrita pelo genial jornalista, produtor, compositor – e que em breve ganhará um texto aqui no blog em virtude dos seus 70 anos – Nelson Motta.
O livro de 300 páginas é um minucioso relato da vida do gordinho mais simpático da Barra da Tijuca (RJ).
Nascido Sebastião Rodrigues Maia, Tim Maia era o caçula de uma família de 12 filhos, Sr. Altivo e Dona Maria Imaculada, os seus País, eram donos de uma pensão na Barra da Tijuca, e a família toda se empenhava no trabalho para garantir o sustento, e o pequeno Tim, era o entregador das marmitas, recebendo o horrendo apelido de “Tião Marmiteiro”. O episódio que narra o encontro quase fatal de Tião Marmiteiro com o jovem Erasmo Carlos é hilário.
O livro narra a morte de Sr. Altivo, o fechamento da pensão e as dificuldades financeiras que a família Maia enfrentou e em paralelo a isso mostra o inicio da trajetória musical de Tim Maia, que montou o grupo musical Os Sputniks, que tinha na sua formação ninguém mais, ninguém menos que Roberto Carlos. Além da sua ida para os Estados Unidos, onde conheceu a soul music, o movimento negro, aprendeu a falar inglês fluente, mas preso e deportado de volta para o Brasil teve que lidar com a miséria e o fato dos seus amigos de infância Roberto e Eramo estarem fazendo sucesso com o movimento Jovem Guarda.
Da sua tentativa fracassada de fazer parte do movimento Jovem, até o lançamento do seu primeiro e aclamado disco em 1970 com os sucessos Coroné Antônio Bento, Primavera, Azul da Cor do Mar e Cristina, foi um pulo, e assim o Tião Marmiteiro se tornava o Tim Maia do Brasil.

Os meus trechos favoritos de Som e Fúria é o primeiro encontro do jovem Tim com o também jovem Jorge Ben Jor, que também tinha aspirações musicais, porém era mais esbelto, atlético, alto e capoeirista. Tim se sentiu intimidado com a presença de Jorge e não quis acompanhar na cantoria que ele fazia na praia, até que alguém na multidão gritou:
– Canta ai Tião Marmiteiro.
E ao ter o apelido revelado ele entrou ferozmente na canção.
A sua amizade com o pessoal dos Mutantes, principalmente com a graciosa cantora Rita Lee é um capitulo a parte, na turnê do lançamento do seu primeiro álbum, Tim e os Mutantes foram se apresentar em um festival de Rock na cidade de Bauru, interior de São Paulo, Tim já usuário de drogas e principalmente de Maconha, ficou responsável por levar o mato seco para que ele e a trupe de Rita Lee utilizassem durante o festival, porém ele esqueceu e ficou completamente desesperado. No meio do show ele diz para a platéia:
– Bauru, conhecida cidade do lanche Bauru… vem cá será que algum de vocês não tem um Bauretezinho ai pra compartilhar comigo? É um Baurete?
E fazia gestos com a mão indicando que queria um baseado, a platéia ficou sem entender, mas a turma dos Mutantes piraram tanto com aquilo que batizaram o seu próximo álbum na época de Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets
Alias a sua paixão pela cantora Rita Lee é comentada durante todo o livro, dado um momento da história, Rita está depressiva devido ao fim do casamento com o músico Roberto de Carvalho, e eis que o autor do livro, Nelson Motta, surge na história visitando a sua grande amiga Rita Lee, e vendo que ela não estava nada bem ele pede para Tim Maia dar um telefonema animando a sua velha amiga, eis que Tim liga e diz:
– Ô Ritalee vou direto ao papo, esperei dez anos da administração Arnaldo Baptista (ex líder dos Mutantes e também ex marido de Rita Lee), dez anos da administração Roberto de Carvalho, eu só quero te dizer que… (pausa para uma voz mais cavernosa) I LOVE YOU.

A Amizade de Rita Lee (Renata Guida) e Tim Maia (Babu Santana) retratada no filme
A Amizade de Rita Lee (Renata Guida) e Tim Maia (Babu Santana) retratada no filme

Ainda no mundo do Rock, na década de 80, a casa carioca Circo Voador teve a idéia de fazer um encontro das tribos, um show onde reuniria a turma do Funk com o pessoal do Punk Rock, estilo que estava em ascensão no momento, e convidou o mestre Tim Maia para se apresentar com a abertura do grupo Punk carioca Coquetel Molotov. Quando o grupo Punk começou a tocar o seu som barulhento, Tim no camarim se revoltou, mandou chamar Maria Juçá, a organizadora do evento e meteu a boca dizendo que se recusava subir ao palco após aquela barulheira anárquica. Tim Maia só não subiu no palco, como fez um show histórico agradando a todos, principalmente a horda do Punk Rock que dançaram o tempo todo. No final do show Tim fez uma festa no camarim regada a Uísque com os Punks e dizia feliz para Juçá:
– Eu não disse que iria dar certo? Eu sou o primeiro Punk do Brasil.
O seu período de sobriedade, porém de pura insanidade ao integrar a louca seita “Universo em Desencanto”, o que fez conceber os dois álbuns mais sensacionais da música brasileira, os discos Tim Maia Racional Vol 1 e 2 (1975 e 1976 respectivamente), ganhou no livro um capitulo genial intitulado de O Evangelho Segundo Tim Maia.

Tim Maia a frente da seita "Universo em Desencanto"
Tim Maia a frente da seita “Universo em Desencanto”

O livro faz uma análise fio a fio de suas principais composições, das gravações e dos principais álbuns que alavancaram a carreira de Tim transformando-o no Pai da Soul Music no Brasil, da banda Vitória Régia e os seus músicos excepcionais e muito pacientes com o indisciplinado Tim Maia. Além da criação da Seroma Edições (As iniciais do seu nome Sebastião Rodrigues Maia) e da Vitória Régia Discos, que segundo o seu proprietário, era a única que pagava aos sábados, domingos e feriados após as 20 horas.
Os seus amores, as brigas conjugais, os filhos queridos, a sua famosa fama de furão e encrenqueiro, as parcerias musicais, tudo está detalhado com muito primor em Som e Fúria, que serviu de roteiro para o filme que tem tudo pra ser um sucesso e honrar o legado desse que foi o maior artista que o país já teve.

Valeu sindico, o Brasil inteiro Gostava Tanto de Você.
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