Fila Benário Fala, Rock, Shows

Aos 20 anos, Amanda foi em seu primeiro show de rock

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Amanda Stabile ao lado da Érika Martins, vocalista do Autoramas

“Com que roupa se vai num show de rock? Posso levar a minha mochila?”, Perguntou a jovem Amanda Stabile em uma troca de mensagem comigo pelo aplicativo WhatsApp. Logo percebi que a estudante de jornalismo de 20 anos de idade ainda não havia assistido a um show de rock e que aquela experiência seria única.

O show em questão, aconteceria dentro do evento Brasil Music Summit que ocorreu na cidade de São Paulo entre os dias 6 e 9 de fevereiro. Além de apresentações musicais, o evento contava com palestras, cursos e workshops voltados para o marketing musical. E entre os shows programados no Unibes Cultural, o Autoramas era uma das atrações.

Autoramas em ação (foto: Clap Me)

Divulgando o recém lançado Libido, o disco integrou inúmeras listas dos melhores lançamentos de 2018, incluindo publicações internacionais. Com 20 anos de trajetória, o quarteto formado por Gabriel Thomaz (vocal e guitarra), Érika Martins (vocal, guitarra, teclado e percussão), Jairo Fajer (Baixo) e Fábio Lima (Bateria) é, sem sombra de dúvidas, o grande nome do gênero no país. Muito pela sua ousadia de fundir elementos sonoros como o punk rock e o garage rock, com a jovem guarda de Erasmo e Roberto. Para a jovem Amanda, que ainda não havia presenciado uma apresentação de rock, não haveria iniciação melhor no gênero do que contemplar os Autoramas e toda sua versatilidade em ação.

Às 18h50, Gabriel Thomaz soou em sua guitarra os primeiros acordes da dançante Sofa, Armchairs and Chairs o primeiro single do supracitado Libido, para a alegria dos presentes que ainda adentravam no recinto. Antes do show começar, levei Amanda na lateral do palco e apresentei ao próprio Gabriel dizendo: “Esse é o primeiro show de rock dela”, completamente surpreso ele perguntou: “E onde que você estava durante esse tempo?”, e talvez seja essa a pergunta que você leitor tem feito desde que leu o título desse texto, por que só aos 20 anos de idade que Amanda assistiu a um show de rock?

Em primeiro lugar vamos aos fatos. Uma recente pesquisa publicada no New York Times, baseada em dados de usuários do Spotify, registrou que o nosso caráter musical é moldado na adolescência. O resultado foi que homens acabam formando o gosto musical com idade entre 13 e 16 anos e têm em média 14 anos quando sua música favorita é lançada. Já as mulheres têm entre 11 e 14 anos quando escolhem seu estilo musical e média de 13 anos quando a sua música preferida sai.

Transpondo isso pra vida da nossa personagem do texto, em 2013, a Amanda Stabile tinha 15 anos, a idade que o seu caráter musical já estava formado. Você se lembra quais eram as 10 músicas mais tocadas nas rádios naquele ano?

Calma que eu te lembro:

1 – Vidro Fumê – Bruno & Marrone
2 – Te Esperando – Luan Santana
3 – Show das Poderosas – Anitta
4 – Vagalumes – Pollo e Ivo Mozart
5 – “Amor de Chocolate” – Naldo Benny
6 – Don’t You Worry Child – Swedish House Mafia
7 – Amiga da Minha Irmã – Michel Teló
8 – 93 Million Miles – Jason Mraz
9 – Sogrão Caprichou – Luan Santana
10 – Choro – Leonardo

Achou algum rock na lista?

E vamos considerar também outros fatores, na época, que corroboraram muito para a não popularização do gênero no país, como o fim da MTV como canal aberto. Entre os anos 1990 e 2000, a MTV desempenhava um papel importantíssimo como formadora de opinião musical, apresentando as principais novidades do mundo da música, principalmente em um momento que o rock mainstream estava em alta. Claro que hoje temos plataformas, como YouTube, que tem um alcance maior, gerando uma espécie de democratização na música, principalmente dando oportunidade para artistas independentes, mas, para o bem da verdade, é que quando temos o nosso estilo musical definido, os milhares de vídeos musicais disponíveis no YouTube, não irão fazer diferença alguma, sempre iremos ouvir aquilo que estamos familiarizado.

Ainda sobre como é moldado o nosso gosto musical, uma pesquisa realizada pela neurocientista canadense Valorie N. Salimpoor, descobriu que ao ouvir uma música que consideramos ser boa, o nosso cérebro libera uma substância chamada dopamina, que causa bem-estar, motivação e prazer. Durante a pesquisa, foram tocados diversos estilos de músicas, e partir dessa ação foi constatada que a música atua em diversas áreas do cérebro de forma simultânea, porém, cada estilo musical estabelecia o seu padrão de atuação. Para Salimpoor, o que determina o nosso gosto musical é a forma como os neurônios conectam entre si e isso é desenvolvido ao longo da vida. Isso é, se crescemos ouvindo um determinado tipo de música, o nosso neurônio já cria uma conexão que sempre será ativada quando ouvimos um estilo de música parecido. Da mesma forma que quando ouvimos uma música diferente do que estamos acostumados a ouvir, o nosso neurônio não responde com familiaridade a ela e por isso não gostamos.

“Amanda, qual era o seu artista favorito quando você tinha, sei-lá, 10 anos de idade?”, perguntei pra ela, enquanto o Autoramas terminava de passar o som: “O RBD”, ela me respondeu com um sorriso largo. Pra quem não se recorda, RBD foi um grupo pop mexicano surgido em 2004, que fazia parte da novela Rebelde, que foi sucesso no Brasil sendo exibida pelo SBT.

Importante ressaltar também, que se a Amanda não tinha familiaridade alguma com o rock, obviamente aquele era o seu primeiro contato com o Autoramas. Se a minha geração, conheceu o Autoramas, por conta da antiga banda do líder Gabriel Thomaz, o Little Quail and the Mad Birds, que veio daquele cenário de bandas brasiliense dos anos 1990 como Rumbora, DFC, Filhos de Mengele, Câmbio Negro e os Raimundos, a geração da Amanda, por sua vez, tampouco conhecia os Raimundos. E não é por maldade ou preguiça, mas por conta de toda a lacuna de gerações apresentada acima.

De volta ao show, apesar do repertório ter sido calcado em boa parte no disco novo, como o caso do single Stressed Out e da canção No Futuro, essa cantada brilhantemente pela Érika Martins, outros grandes sucessos do Autoramas pincelaram o setlist, como Abstraí, Quando a Polícia Chegar, Paciência e Catchy Chorus, essa com Gabriel, Érika e Jairo descendo do palco e interagindo com a plateia. A curtíssima apresentação foi encerrada com Ding Dong, canção também do disco Libido, que traz um inovador videoclipe interativo. Nesse momento, Amanda, que estava se deliciando com o show desde o início, me deu um outro largo sorriso e confidenciou: “Essa eu conheço, eu ouvi ela o dia inteiro antes de vir pra cá”, eu sorri mais largo ainda.

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Gabriel e Jairo (foto: Clap Me)

Do palco, a banda avistou na plateia o músico, amigo e eterno Planet Hemp BNegão, e convidou o mesmo para uma participação especial improvisada. Era bem provável que a canção escolhida seria 1,2,3,4 o hino atemporal do já citado Little Quail and Mad Birds, no qual o Autoramas fez uma versão surf rock, com a participação do próprio BNegão, registrada no EP Auto Boogie lançado pelos dois em 2014, porém, a produção do Brasil Music Summit impediu que parceria fosse concretizada, alegando falta de tempo, frustrando todos os presentes.

“E aí, Amanda, gostou?”, e com uma empolgação gigantesca, ela respondeu: “Eu adorei, eles são muito bons, mas a Érika é incrível! Ela é a banda, ela é linda, tem carisma, presença de palco, canta muito, dá vontade de ser ela”. Mais do que depressa, peguei Amanda pelas mãos, levei ela na lateral do palco novamente e apresentei ela pra Érika Martins, fiz todo aquele lobby de novo, que aquele era o seu primeiro show de rock, as duas se abraçaram e tiraram uma foto juntas.

Muito tem se falado sobre a importância da representatividade em nossa sociedade, e talvez se eu tivesse levado a Amanda para assistir uma apresentação de uma banda formada apenas por homens, não surtiria tanto efeito e não lhe causaria tanto magnetismo do que a oportunidade de ver no palco uma mulher empoderada, que toca os mais diversos instrumentos musicais e que canta e encanta de forma magistral.

Érika Martins dando a letra! (foto: Clap Me)

O rock sempre foi um estilo transgressor e que quebrou inúmeros paradigmas. Ele sempre foi a trilha sonora dos desajustados, daqueles que nunca tiveram o seu lugar no mundo. Entretanto, hoje, principalmente no mainstream, ele tem se tornado cada vez mais reacionário e conservador, virou a música de um público seleto, de um grupo, e você não é bem vindo naquele grupo se não seguir as regras impostas. Talvez seja por isso que ele não seja mais atraente ao jovem nos dias atuais. Mas, naquela tarde, Amanda com certeza teve a oportunidade de conhecer o gênero como ele deve ser, uma música viva, alegre, dançante, inclusiva e que te faça sentir representado.

Melhores do Ano

Os 15 melhores discos internacionais de 2017 por Fila Benário Music

Já estamos em 2018, é fato, mas não é tarde para relembrar os melhores discos lançados em 2017. Até porque houve tanto lançamento bom, que ficará marcado durante muitos anos. E hoje, conforme prometido anteriormente, segue abaixo os melhores discos internacionais lançados no ano de 2017, selecionados pela equipe do Fila Benário Music.

15 – RARE – Hundredth
15 - Hundredth
2017 foi o ano da música shoegaze (aquele rock introspectivo, tocado ora acelerado, ora cadenciado, com os músicos sempre olhando para os seus pés). Novos nomes do gênero, como o Cigarettes After Sex, lançaram os seus discos de estreia, assim como nomes conceituados do gênero mostraram que tem muita lenha ainda a queimar, como o caso dos veteranos do Slowdive. Mas a grande surpresa do estilo, com certeza, vem de uma banda que nada tem a ver com o shoegaze, mas que deu muito certo na empreitada. O Hundredth sempre foi uma banda de Metalcore, de bateria acelerada, guitarras pesadas e vocal berrado. Em RARE, o quarto álbum de sua carreira, a banda mergulhou de cabeça na sonoridade britânica e nos presenteia com uma melodia forte, madura, consistente em canções como Vertigo, Neurotic, Hole, Disarray e Down.
Pra quem gostava do Hundredth mais sisudo e barulhento, RARE é uma decepção. Mas só a coragem da nova guinada sonora, sem soar forçado ou com a intenção de fazer mais dinheiro, como foi o caso do Suicide Silence, por exemplo, faz a banda merecer fortes aplausos.
https://open.spotify.com/album/6HZ8ACXr1OOiAmkq7mNn4h

14 – Songs of Experience – U2
14 - U2
Ter mais de 40 anos de carreira, lançar trabalhos inéditos e ainda soar relevante, é um imenso desafio, e os irlandeses do U2 conseguem cumprir com muito louvor. Songs of Experience, o 13º da carreira do quarteto, mostra a banda em sua melhor forma, soando infinitamente melhor que no seu antepenúltimo álbum, No Line on the Horizon (2009), e na mesma medida do seu antecessor Songs of Innocence (2014). Aqui a banda mescla os melhores momentos da sua carreira: a louvação a música americana de The Unforgettable Fire (1984) e The Joshua Tree (1987) pode ser encontrada na canção Lights Of Home, além da epopéia alemã de Achtung Baby (1991), presente nas faixas You’re The Best Thing About Me, Get Out Of Your Own Way e Red Flag Day.
Se quem vive de passado é museu, o U2 prova que tem um presente glorioso demais, ainda, para nos apresentar.

13 – Lotta Sea Lice – Courtney Barnett e Kurt Vile
13 - Courtney e Kurt
A australiana Courtney Barnett já havia aparecido por aqui com a sua estreia arrasadora, em 2015, no álbum Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit. Hoje ela ressurge com a essa parceria incrível ao lado de um dos grandes nomes do rock alternativo, o compositor e guitarrista norte americano Kurt Vile. Um disco é um lo-fi delicioso, um encontro de vozes dissonantes, sentimentalismo aflorado e belas canções do tamanho de Over Everything, Outta the Woodwork, On Script, Blue Cheese, além do cover de Fear Is Like a Forest de Jen Cloher.
Que ambos continuem com muito sucesso em suas carreiras solos, mas que esse encontro volte a se repetir mais vezes.

12 – Dead Cross – Dead Cross
12 - Dead Cross
O que poderia sair de um projeto de metalcore formado por Mike Patton (Faith No More) e Dave Lombardo (Slayer, Fantomas e Misfits)? Claro que por se tratar da figura esquizofrênica de Patton, o disco não é para iniciantes, mas há bons momentos que merecem ser aclamados como Seizure and Desist, Idiopathic, Shillelagh e Divine Filth.
https://open.spotify.com/album/3zrYYmu7B0P2sVEDBnPYa3

11 – From The Fires – Greta Van Fleet
11 - Greta Van Fleet
Com certeza a maior surpresa de 2017 foi esse quarteto formado por garotos de Michigan (EUA), que emula um Led Zeppelin melhor do que ninguém. Contando com três irmãos na formação, Josh (vocalista), Sam (baixista) e Jake Kiszka (guitarrista), foi em 2017, após o lançamento do EP Black Smoke Rising que os moleques foram alçados ao status de melhor revelação do ano.
Em From The Fires, eles reuniram as quatro canções do EP, como a magnífica Highway Tune, com as inéditas Edge Of Darkness, A Change Is Gonna Come, Meet On The Ledge e Talk On The Street, lançando, assim, esse full que mostra muita qualidade nesse grupo.
Não há mais o que falar a respeito, ouça e aplauda de pé.

10 – After The Party – The Menzingers
10 - The Menzingers
Esse figurou na lista de melhores discos de 2017 de muita gente. A verdade é que After The Party mostra o The Menzingers em um tremendo amadurecimento em suas canções, que fica claro nas temáticas abordadas nas letras, mas sem abrir mão da melodia e sonoridade que consagrou esse quarteto da Pennsylvania (EUA), o poppy-punk. As belíssimas canções Trick as Thieves, Midwestern States, Charlie’s Army, além da grudenta Tellin’ Lies, provam isso.

9 – Eternity, In Your Arms – Creeper
9 - Creeper
A melhor definição já feita à respeito dos britânicos do Creeper é que é a junção perfeita entre The Misfits com My Chemical Romance. Claro que você pode detestar uma das duas partes da equação (a segunda, é óbvio), mas a verdade é que o Creeper soa maravilhosamente bem em sua proposta de fazer um punk hardcore com horror rock, incluindo elementos pop, sem soar forçado ou desfragmentado. Ouça as canções Black Rain, Suzanne, Down Below, Darling, as velozes Poison Pens e Room 309, além da belíssima balada Crickets, cantada pela tecladista Hannah Greenwood, e se delicie com esse novo nome do gênero.

8 – Wolves – Rise Against
8 - Rise
A dúvida que fica após uma audição minuciosa de Wolves é: “Será que o Rise Against finalmente melhorou, ou será que nós que finalmente nos acostumamos com essa nova banda?”, porque a verdade tem que ser dita, o “fétido” poppy-punk que a banda enveredou nos últimos 10 anos, está presente em Wolves, como nas faixas: Politics Of Love, Mourning In Amerika e Miracle. Mas os bons momentos de outrora, estão em maior número e aparecem na veloz (e berrada), Welcome To The Breakdown, nos singles House On Fire e The Violence, além de How Many Walls e da faixa título, que já abre o disco de forma veloz.
Se ficou melhor, ou se acostumamos com o que era ruim? Só o tempo dirá, mas há tempos um lançamento do Rise Against não soava tão empolgante.

7 – American Beauty – CJ Ramone
7 - CJ
O terceiro disco solo de CJ Ramone, é prova concreta que o baixista era um dos maiores talentos do famoso quarteto nova iorquino.
CJ poderia estar como os outros dois Ramones sobreviventes, Marky e Ritchie, vivendo apenas do seu passado glorioso, mas não! Bom pra ele, melhor pra nós que somos presenteados com esse petardo que reúne suas melhores composições, seguindo na risca toda cartilha aprendida em seus sete anos como um Ramone: três acordes e muita energia.
Os principais destaques de American Beauty são as punks Girlfriend in a Graveyard, Yeah Yeah Yeah, Steady as She Goes, Run Around, além do cover de Pony de Tom Waits. Também há espaço para sentimentalismo no disco, como nas baladas You’ll Neve Make Me Believe e Be A Good Girl. Mas o que vai fazer muito marmanjo chorar de emoção será com a canção Tommy’s Gone, uma singela, e acústica, homenagem ao baterista original dos Ramones, Tommy Ramone, morto em 2014 em decorrência de um câncer.
Discão.

6 – Ogilala – Billy Corgan
6 - Billy Corgan
Em sua primeira experiência solo, o terreno não estava muito fértil para Billy Corgan. O que o público queria mesmo, era a volta do seu grupo oficial, o Smashing Pumpkins. Tanto que o disco em si, TheFutureEmbrace (2005), passou batido pelos fãs e foi malhado pela crítica.
Hoje, de volta com a sua consagrada banda, e com fortes especulações que haverá um retorno da formação original, Billy Corgan (que agora atende pelo nome de batismo William Patrick Corgan) se encontra deitado em berço esplêndido, se sentindo assim seguro para mais um voo solo. E dessa vez deu certo.
Ao contrário de suas outras empreitadas musicais (Smashing Pumpkins e Zwan), em Ogilala, não há uma guitarra distorcida sequer em suas 11 faixas, algo impensável, visto que o músico é tido como um gênio do instrumento, dentro do rock alternativo, mas as composições são tão marcantes e bonitas, que o instrumento nem faz tanta falta assim. Belos arranjos de violões e pianos, fazendo a cama para a voz impactante de Corgan brilhar, como em Zowie, Half-Life Of An Autodidact, Aeronaut, The Long Goodbye e Processional, que conta com a participação de James Iha, olha a reunião do Smashing Pumpkins original acontecendo aí!
Em Ogilala, temos desse compositor uma de suas maiores obras, ao lado de Siamese Dream (1993), Mellon Collie and Infinite Sadness (1995) e, porque não, Celebrity Skin (1998).
https://open.spotify.com/album/3vbpr9bSatnCayUMzWomXw

5 – Prisoner – Ryan Adams
5 - Ryan
E o prolixo Ryan Adams lançou mais um disco. É impressionante que em cada empreitada sua, ele soa relevante e nos presenteia com músicas marcantes. E o mesmo acontece com Prisoner. Depois enveredar pelos mais vastos caminhos sonoros, seja no hard rock em Rock n’ Roll (2003), seja no country com o brilhante Gold (2001), ou no punk rock de Hüsker Dü e Black Flag em 1984 (2014), ou até mesmo fazendo uma releitura folk do álbum premiado da princesinha pop Taylor Swift, em 1989 (2015). Ryan volta ao folk e faz um disco solar, bonito e com canções soberanas, como a própria faixa título, Tightrope, Doomsday, Haunted House, To Be Without You, Breakdown e Broken Anyway.
E não satisfeito, ele compilou as 17 sobras do disco (!) e lançou no mesmo ano o Prisoner B-Sides.

4 – Trouble Maker – Rancid
4 - Rancid
Porque o mundo ainda necessita de veteranos como Rancid lançando discos inéditos e ensinando essa garotada como é que se faz punk rock de verdade.
Se no disco anterior, …Honor Is All We Know (2014), o grupo foi acusado de preguiçoso, pelo disco curto e de faixas parecidas. Em Trouble Maker, fez aquele saladão punk que os fãs do quarteto adoram. Toda história do punk rock está aqui, tem punk 77, hardcore, rocksteady, ska, como nas canções Track Fast, Ghost Of a Chance, Telegraph Avenue, An Intimate Close Up of a Street Punk Trouble Maker, All American Neighborhood e Make It Out Alive.
A verdade está em Trouble Maker, a bíblia com as palavras de salvação de Tim, Lars, Matt e Branden.
Amém.

3 – Promise Everything – Basement
3 - Basement
Agora chegamos ao momento das medalhas aqui no Fila Benário Music. E a medalha de bronze vai para um dos discos mais ouvidos aqui na redação em 2017. Pra quem ainda não conhece, o Basement é um quinteto formado na Inglaterra, que faz um post hardcore com guitarras trabalhadas e vocais melódicos. Promise Everything é o terceiro disco da carreira do grupo, mas não seria exagero algum ser o primeiro álbum a indicar para alguém que ainda não conhece a banda, mas tem o interesse. Ouça Brother’s Keeper, Hanging Around, Lose Your Grip, Oversized, Blinded Bye, além da faixa título, e se delicie.

2 – As You Were – Liam Gallagher
2 - Liam Gallagher
Se você chegou até aqui procurando por algum Gallagher em nossa lista, esse será o único o que você verá!
Após o fim do Oasis, em 2009, Liam Gallagher teve uma carreira bem irregular. Rapidamente ele montou o Beady Eye, que era um pastiche de tudo que foi lançado no final dos anos 60 e início dos 70. Nada que o próprio Oasis já não tinha feito. Tentou até gravar um álbum mais moderno, com a produção de Dave Sitek, produtor de gente cool como TV on the Radio, Yeah Yeah Yeahs, (além de ter produzido o pior disco do Cerebral Ballzy, o chatíssimo Jaded & Faded (2014)), mas já era tarde, ninguém estava interessado no grupelho e todo mundo aclamava o outro irmão, que estava em uma carreira solo vindoura.
Liam aprendeu que a pressa é inimiga da perfeição, desmontou o grupo e ficou durante três anos planejando o seu voo solo, e finalmente deu certo.  As You Were é um dos melhores discos com voz de Liam desde Be Here Now (1997), do supracitado Oasis. O single Wall of Glass foi de uma escolha certeira, sendo ele forte e crescente. For What It’s Worth, o outro single, poderia integrar o tracklist de Be Here Now de tão grandioso. Outros grandes destaques de As You Were são Come Back to Me, Greedy Soul, Paper Crown, When I’m in Need, Bold, I Get By e a divertida You Better Run, que mostra a sua obsessão por Beatles citando no refrão as palavras Helter Skelter.
Enquanto Noel Gallagher, que na crista da onda, resolveu ousar e lançar o disco de música eletrônica para agradar os filhos. Liam foi pro básico e lançou, como ele mesmo diz, uma obra BÍBLICA.

1 –  in•ter a•li•a – At The Drive-In
1 - At
Que Guns n’ Roses com Slash e Duff, o que! A volta mais esperada pelos fãs de hardcore era, com certeza, a do At The Drive-In, famoso grupo de post-hardcore texano, formado por filhos de imigrantes da América Central, que fazia um som bem experimental, com letras políticas cutucando o imperialismo americano, e lidando com temas espinhudos como a violência contra mulher, abuso sexual infantil e o racismo. Após o lançamento do melhor disco da sua carreira, Relationship of Command (2000), a banda se dissolveu formando dois novos grupos, o Sparta, com Jim Ward (Guitarra e Voz), Paul Hinojos (Baixo) e Tony Hajjar (Bateria), e o The Mars Volta, com as duas mentes pensantes, insanas e criativas Cedric Bixler (Vocal) e Omar Rodríguez (Guitarra). Em 2011 foi anunciado o retorno do grupo, e até houve algumas apresentações em diversos festivais, mas o mal estar entre os integrantes era visível. O grupo desapareceu de novo sem deixar vestígios.
Mas foi em 2016 que começou a pipocar a notícia que o grupo retornaria, sem o guitarrista Jim Ward, mas em compensação lançaria um material inédito. E eis que no começo de 2017 o grupo ressurge das cinzas carregando consigo um dos seus melhores álbuns.
in•ter a•li•a, que significa em latim “Entre Outras Coisas”, traz o grupo em sua melhor forma, com o seu hardcore veloz, mesclando experimentalismos progressivos e algumas passagens dançantes de r&b. Não faltam sucessos atemporais, como Call Broken Arrow, No Wolf Like The Present, Continuum, Pendulum In a Peasant Dress, e os singles que apresentaram o “novo” At The Drive-In para o público: Governed by Contagions, Incurably Innocent e Hostage Stamps.
Um excelente retorno. Que venha para o Brasil logo!

Pronto! Agora chega de 2017!

 

Melhores do Ano

Os 15 melhores discos nacionais de 2017 por Fila Benário Music

Já estamos em 2018, é fato, mas não é tarde para relembrar os melhores discos lançados em 2017. Até porque houve tanto lançamento bom, que ficará marcado durante muitos anos.
E dessa vez optamos por algo inédito, e que esperamos que se repita nos próximos anos. Dividimos a lista em duas, hoje publicaremos os 15 melhores discos nacionais de 2017, e na segunda os 15 internacionais.

Sem maiores delongas, confira quais foram os discos preferidos da nossa equipe

15 – A Última Palavra Feche a Porta – Plutão Já Foi Planeta
15 - Plutão
O pop adocicado do Plutão Já Foi Planeta reaparece em A Última Palavra Feche a Porta, o segundo disco do conjunto de Natal (RN), após três anos da estréia arrasadora em Daqui Pra Lá (2014).

Aqui o grupo usa e abusa de sintetizadores, além de contar com participações especiais de respeito, como Maria Gadu em Duas, e Liniker Barros na dançante e charmosa Insone.

14 – Plush – Lava Divers
11 - Lava Divers
Um Rock puro, visceral, feito na garagem pra tocar na garagem. Esse é o sentimento após uma audição minuciosa do disco de estreia dos mineiros do Lava Divers. Plush traz aquela guitarra distorcida que cospe riffs displicentes, em cima de uma bateria ora acelerada, ora cadênciada, com vocais relaxados que tornam tudo mais mágico e potente.
As 11 faixas do disco, todas em inglês, é um cruzamento perfeito da invasão de bandas suecas no início dos 2000, como Hellacopters, Sahara Hotnights e Backyard Babies, com as guitar bands alternativas do final dos anos 80 como Pixies, Sonic Youth e Dinosaur Jr. mas com identidade própria. Os principais destaques são: I Feel You, Eddie Shumway Is Dead e a bela balada My Boy, cantada pela baterista Ana Zumpano.

13 – Mess – Deb And The Mentals
14 - Deb
Com certeza a grande revelação do ano foi esse disco de estreia da galera do Deb and The Mentals. O som do grupo permeia pelo bubblegum com doses de Ramones, circa Rocket To Russia, tudo cantado em inglês com os belos vocais de Deb Babilônia. Os principais destaques são o single Mess, a abertura arrasadora com Bleeding, e as ramônicas I’m Ok e Alive.
Bela estreia.

12 – Sinais do Sim – Os Paralamas do Sucesso
13 - Paralamas
O tempo só tem feito bem aos Paralamas do Sucesso. Em seu 13º trabalho de estúdio, o grupo ainda apresenta a sua música que permeia entre o rock britânico de The Police com a fusão de ritmos brasileiros, a principal característica do trio. Além da musicalidade afiada, da cozinha exemplar de Bi Ribeiro e João Barone, considerada por muitos a melhor do país, e da guitarra mágica de Herbert Vianna, que serve como suporte da sua voz já gasta, os temas abordados no disco refletem bem os problemas sociais vividos nos últimos anos como explícito na canção Medo do Medo, de autoria da rapper portuguesa Capicua. O single Sinais do Sim, cairia perfeitamente no tracklist de qualquer outro álbum de sucesso do grupo como O Passo do Lui (1984), Selvagem (1986), Os Grãos (1991).
Um retorno triunfante de quem, na verdade, nunca foi embora.

11 – A Gente Mora no Agora – Paulo Miklos
12 - Paulo Miklos

E o terceiro disco solo do Paulo Miklos, o primeiro dele após sua saída definitiva dos Titãs, no ano de 2016, o compositor mostra a sua verdadeira faceta que não era tão explícita no grupo. Paulo Miklos reinventa a roda, canta baião, samba, uma baladaça soul do tamanho de Estou Pronto, na qual cantor exorciza o luto pela morte da esposa em 2012, vítima de câncer, e diz: “Estou vivo, estou pronto, estou amando de novo”. O tom confessional das canções já faz do disco um primor, mas Paulo ainda conta com um timaço de compositores, unindo novos nomes da música brasileira, como Céu, Emicida, Lurdes da Luz, Mallu Magalhães, Tim Bernardes, com membros da velha guarda musical, como Guilherme Arantes e Erasmo Carlos, além dos ex-companheiros de Titãs, que também embarcaram no voo solo como Arnaldo Antunes e Nando Reis.

10 – Continental – Bullet Bane
10 - Bullet
Em seu terceiro disco, a mudança de idioma não foi a única guinada na música do aclamado Bullet Bane. Hoje o som do conjunto, que era um Hardcore veloz com claras influências de metal, se encontra com o post hardcore de bandas como Finch e Senses Fail, além de nuances mais cadenciadas e vocais melódicos, que fica explícito nas faixas: Cisplatina, Curimatá e Encruzilhada. Mas os berros característicos estão lá em faixas como: Gangorra, Melatonina, Esperanto e Labirinto.
Quem arrisca, pode errar, quem não arrisca, já errou. Nesse caso, o Bullet Bane acertou e muito!

9 – Antes Durante Depois – Pavilhão 9
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Um retorno muito comemorado em 2017, com certeza, foi do Pavilhão 9. Depois de 11 anos sem lançar um material inédito, e após uma tentativa de volta, mal sucedida, em 2012 no festival Lollapalooza. O grupo capitaneado pelos rappers Rhossi e Doze está de volta e com um adicional de luxo, a entrada do baixista Heitor Gomes, que já teve passagens no Charlie Brown Jr. e CPM 22, que se faz notar nas trabalhadas e pesadas linhas de baixo que abrilhantam as faixas do novo álbum do grupo, Antes Durante Depois. O som é aquele velho conhecido dos fãs do conjunto, aquela mescla entre a rima venenosa do Rap com peso do Rock, como podemos conferir em Boca Fechada, Os Guerreiros, Acredita Não Duvida e no single Tudo Por Dinheiro.

8 – Musica de Brinquedo 2 – Pato Fu
8 - Pato Fu
A genialidade do Pato Fu em realizar releituras de grandes clássicos da música mundial em instrumentos de brinquedo, chegou ao seu segundo volume. Música de Brinquedo 2 traz os Patos revistando sucessos como Palco do Gilberto Gil, Rock da Cachorra do Eduardo Dusek, Mamãe Natureza da Rita Lee, Every Break You Take do The Police, Private Idaho do B-52’s, I Saw You Saying de autoria de Gabriel Thomaz (Little Quail and Mad Birds e Autoramas) eternizada pelos Raimundos, além das politicamente incorretas, para os padrões infantis, Severina Xique-Xique de Genival Lacerda, Livin’n La Vida Loca do Ricky Martin.
Mergulhe nesse universo lúdico, musical e genial do Pato Fu.

7 – Espiral de Ilusão – Criolo
7 - Criolo
Criolo desligou as pickups, abriu mão das rimas que lhe tornaram nacionalmente famoso e voltou às raízes do samba, o gênero musical primário do jovem da periferia do Grajaú.
Em Espiral de Ilusão, Criolo emula Cartola, Zé Keti, Noel Rosa, Paulinho da Viola e outros mestres do samba de raíz e assina a composição das 10 canções inéditas que abrilhantam esse disco. Dilúvio de Solidão, carrega aquele samba maroto do morro com os vocais de apoio femininos característicos do gênero. Calçada, invoca a mãe áfrica, com forte percussão na introdução, e a divertida Filha do Marreco é um tremendo samba de breque à Moreira da Silva. Mas o grande destaque do álbum vai para o single Menino Mimado e o seu refrão contestador: “Meninos mimados não podem reger a nação”.

6 – Caravanas – Chico Buarque
6 - Chico
Depois de seis anos sem material inédito, Chico Buarque finalmente quebra o silêncio e lança Caravanas, o 38º álbum de sua carreira. Muito aguardado pelos fãs, o disco, de apenas nove faixas, faz bonito na discografia do artista, mostrando que o mesmo ainda tem muita lenha a queimar. Tua Cantiga, a primeira canção a ser disponibilizada do disco, carrega uma percussão serena, um piano que dá toda tônica da canção, fazendo a cama para a voz cansada, mas integra, de Chico. O disco também é marcado pelas participações dos netos de chico, o primeiro a aparecer é Chico Brown na composição da valsa Massarandupió, e depois vem a jovem Clara Buarque que canta a canção Dueto. Ambos filhos do cantor Carlinhos Brown com a Clara Buarque, filha de Chico. Outros destaques vão para Blues Para Bia e As Caravanas, nessa última Chico fala dos imigrantes que buscam refúgio em outras nações, contando com a participação especial de Rafael Mike do Dream Team do Passinho nos beat box.
Um país que tem Chico Buarque compondo e lançando maravilhas como essa, não deveria nomear um certo cantor aí como rei…

5 – Ego Kill Talent – Ego Kill Talent
5 - Ego Kill Talent
Contando com integrantes de bandas renomadas, como Sepultura, Diesel, Reação em Cadeia, Pulldown e Sayowa, o Ego Kill Talent chegou com tudo em 2017, se apresentando, inclusive, no Rock In Rio, além de ter feito shows na Europa no mesmo ano. Mas, musicalmente falando, o grupo merece todos os louros colhidos, a música é de qualidade absurda, um Stoner Rock poderoso que lembra muito os californianos do Kyuss. A melódica Still Here, a pulsante Just To Call You Mine, além do single de pegada grunge Sublimated, fazem do disco de estréia do grupo um excelente cartão de visitas.

4 – Premeditated – The Crashing Brains
4 - The Crashing Brains
Vindo diretamente de São Paulo, esse quarteto é a prova mais do que concreta de que o “Grunge Not Dead”, como muitos propagam por aí.
Se você quer procurar por uma referência sonora, Frogstomp, o disco de estreia dos australianos do Silverchair, talvez seja a mais acertada. Mas o disco vai muito além disso, ele apresenta a qualidade musical apurada da banda em excelentes canções como On and On, Lies, Pride e Convinced.
Ouça no volume máximo.

3 – Deixa Quieto – Macaco Bong
3 - Macaco Bong
Se Pato Fu foi mais uma vez genial em fazer releitura de grandes clássicos com instrumentos de brinquedo, o Macaco Bong transcendeu as barreiras da genialidade fazendo releitura instrumental completamente desconstruída de um dos discos mais adorados dos anos 90, o Nevermind do Nirvana.
Aqui o que grupo fez foi pegar a obra parida por Cobain, Grohl e Novoselic, torcer, moer, triturar e remontar esse Frankenstein musical. Tudo é tão especial, a começar dos títulos, o clássico absoluto Smells Like Teen a Spirit virou Smiles Nike Tim Sprite. On a Plain se tornou Móviaje, Something In The Way homenageia a turma da academia com o nome Somente Whey, e Come as You Are é, por sua vez, Com Easy Com Uber. Sobre o resultado musical, é difícil salientar qual releitura ficou melhor, mas as versões de In Bloom (Nublum), Drain You (Drive-In You), Breed (Briza), além da irreconhecível versão de Lounge Act (Salão) são as que saltam aos ouvidos na primeira audição.

2 – Death Rides a Crazy Horse – Corona Kings
2 - Corona Kings
Quer um disco de rock bruto, veloz e visceral como deve ser? Então se delicie com esse petardo do Corona Kings. Death Rides a Crazy Horse, também bebe da fonte da nova escola de rock sueca, flertando muito com as bandas do mestre Nicke Andersson (The Hellacopters e Imperial State Electric). Só a abertura poderosa com Boyhood já define o disco, mas ele ainda nos presenteia com a punk Death Proof, com a pesada e veloz With You e a suingada Broken. Deb Babilônia do Deb and the Mentals participa da faixa Try It Out, com a sua voz marcante.
Enfim, um disco que merece ser ouvido e ouvido de novo.

1 – Year 3000 – Water Rats
1 - Water Rats
E a medalha de ouro de 2017 vai para galera do Water Rats e esse disco incrível.
Vindo das cinzas do Sugar Kane, contando com dois integrantes originais do grupo na formação, Alexandre Capilé (Vocal e Guitarra) e Renê Bernuncia (Bateria), o Water Rats surgiu como um projeto mais punk e displicente ao contrário de toda melodia predial do grupo principal, mas ganhou tanta notoriedade, que o Sugar Kane ficou pra escanteio, e ano a ano o Water Rats vem provando ser um das bandas mais notórias da atualidade, e Year 3000 vem provando isso. O disco já abre com a veloz faixa título, com Capilé berrando alucinadamente. Animal vem na sequência mantendo o pique inicial. A passagem do grupo por Seattle, em 2015, participando do projeto da Converse Rubber Tracks gravando o EP Hellway to High (2016), sob a produção de Jack Endino (Nirvana, Mudhoney, Soundgarden) fica explícita nas canções Another Piece of Heartache e Feels All Fools Right, ambas com forte inclinação grunge e cantadas pelo guitarrista Pedro Gripe. Aliás, em Year 3000, Pedro assumiu a maioria dos vocais, com a sua característica voz grave e ímpar. Os demais destaque do disco são Yeah Yeah Yeah, Riot Girl, Rolling Stoners e a insana Quit Society.
Discão.

Até segunda!!!

Shows

Hateen faz show marcante em Jundiaí, atendendo pedidos de fãs no repertório

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(Foto: Aldeia Bar)

No dia 25 de novembro, faltando apenas trinta dias para o natal, o grupo paulistano Hateen se apresentou no Aldeia Bar, em Jundiaí (SP), e presenteou o público com um grande show, contando com os maiores sucessos da sua carreira.

Antes, duas bandas da casa fizeram os shows de abertura: Boca de Lobo e Facing Death. A primeira, formada pelos vocalistas Bruno Galiego e Cassiano Biaggio, Cappuccelli (Guitarra), Raul Fernandes (Baixo) e Diego Martins (Bateria), faz um Punk Rock direto, pesado e com precisão, com claras influências de OFF!, Comeback Kid, Circle Jerks e Biohazard, e com uma presença de palco enérgica. No repertório, canções como: Celebração, Jurandir e Feras Cabeludas fizeram a alegria da imensa horda que acompanha fielmente a banda em suas apresentações. O principal destaque vai para o inesperado, e divertido ao mesmo tempo, cover de Living After Midnight do Judas Priest.

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Boca de Lobo (Foto: Aldeia Bar)

O Facing Death fazia, na ocasião, o show de lançamento do primeiro álbum do grupo, From Here to the Unknown. Apesar de todo o ineditismo, a banda conta com figurinhas carimbadas da cena jundiaiense dos anos 2000, oriundas de bandas como Make Your Wish, OneFourSeven e Dust Mind. O som do grupo é um passeio entre a fase madura do Millencolin em Pennybridge Pionners, com respingos sonoros de Hot Water Music e Jawbreaker.

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Facing Death (Foto: Aldeia Bar)

Para os donos da noite, o show foi uma catarse coletiva. No palco, uma banda muito bem entrosada, que se apresentava pela quinta vez em Jundiaí, sendo a terceira vez consecutiva no Aldeia Bar, se mostrava afiada em sua missão de tocar os sucessos da sua fase definitiva cantada em português, mas dando uma atenção maior em seu mais recente lançamento Não Vai Mais Ter Tristeza Aqui, concebido no ano passado. Na plateia, um bom número se fazia presente, sendo suficiente para cantar, pular, subir na grade que separava o palco do público, e até mesmo se emocionar com lágrimas rolando nos olhos, diante das canções do grupo.

O show abriu com a faixa título do novo disco, seguido de Eu Voltei e da faixa título do quinto álbum do grupo, Obrigado Tempestade. A canção Perdendo o Controle, que narra o drama pessoal do vocalista Rodrigo Koala, que sofre de ansiedade e síndrome do pânico, foi dedicada a todos que também sofrem desse mal invisível. Do novo disco ainda teve Coração de Plástico e o hit Passa o Tempo. Do primeiro disco do grupo, cantado na língua natal, o seminal Procedimentos de Emergência, tivemos Não Vá, Uma Vida Sem Saudade, Inferno Pessoal e a radiofônica Quem Já Perdeu o Sonho Aqui?. Músicas como Laser e Você Não Pode Desistir, também fizeram presentes. Para os fãs da fase em inglês do quarteto, um deleite, uma versão do sucesso Danger Drive, eternizado no segundo disco do grupo, o clássico Dear Life, mas que foi revistado também no Procedimentos de Emergência.

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Hateen (Foto: Aldeia Bar)

Como citado anteriormente, o Hateen se encontra em sua melhor forma musical, uma banda totalmente entrosada e tocando na mais perfeita sincronia. Thiago Carvalho, fez por merecer o posto oficial de baterista, após amargar, durante meses, o cargo de substituto do Ricardo Japinha, que na época dividia funções entre a banda e o CPM 22. Thiago tem feeling, técnica e muita fúria por trás do instrumento, chegando até a deslocar de lugar o bumbo da bateria em diversas vezes durante o show. Formando uma cozinha precisa ao lado do baixista Leon Sérvulo, a dupla era a peça que faltava para engrenagem Hateen continuar a rodar.

Fábio Sonrisal e Rodrigo Koala, formam, hoje, a dupla de guitarristas mais respeitada da cena underground, com riffs marcantes, solos precisos e oitavadas que dão todo o dinamismo nas canções da banda. E o Koala, aliás, tem cantado de forma intensa, mantendo os seus berros e alcançando notas altíssimas no tom original.

O grande sucesso mainstream do grupo, a canção 1997, deveria fechar o show, mas foi nesse exato momento que a plateia, que também fez o seu show particular cantando todo o repertório, deixando a banda visivelmente emocionada, começou a pedir mais canções. E foram desses pedidos que ainda rolaram, de forma improvisada, mas muito bem executada: Minha Melhor Invenção, Não Existe Adeus e Perfeitamente Imperfeito.

Comemorando 23 anos de carreira, o grupo gravará o seu primeiro DVD ao vivo, no próximo dia 22 de dezembro, no Hangar 110, em São Paulo, sendo o último show da banda no local, e o penúltimo da casa, que irá encerrar as atividades nesse ano. Não há dúvidas que esse show será de muita importância para o grupo, mas, com certeza, essa noite no Aldeia Bar, também será inesquecível para todos que lá se fizeram presentes.

Fila Benário Fala, Lançamentos e Novidades, Resenhas

Green Day e Blink 182 lançaram novos discos, qual é o melhor?

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2016 nem acabou, mas tem sido um ano maravilhoso para o Punk Rock/Hardcore, diga-se de passagem. Só no primeiro semestre tivemos os lançamentos de Bob Mould (Patch The Sky), Face To Face (Protection) e The Bouncing Souls (Simplicity). E na entrada do segundo semestre fomos muito bem recebidos com os novos do Descendents (Hypercaffium Spazzinate), The Interrupters (Say It Out Loud) e Against Me! (Shape Shift With Me), sem contar que o NOFX também prepara um lançamento para o mês seguinte. Isso porque eu não mencionei os lançamentos nacionais como os novos do Dance Of Days (Amor-Fati), Hateen (Não Vai Mais Ter Tristeza Aqui), Zander (Flamboyant), além da estreia do Please Come July (Life’s Puzzle), projeto contando com grandes nomes da cena underground brasileira.

No entanto, os dois discos mais aguardados do gênero eram, com certeza, os novos discos dos californianos do Green Day e do Blink 182. O do trio capitaneado por Mark Hoppus era esperado com ansiedade, pois se tratava do primeiro disco do conjunto sem o guitarrista e vocalista Tom DeLonge (leia a matéria sobre a saída dele aqui), marcando a estreia do Matt Skiba, do Alkaline Trio, no lugar. Já o do Green Day, tinha uma grande espera pelo fato de ser primeiro disco após a internação de Billie Joe Armstrong na clínica de reabilitação, que cancelou toda a turnê de divulgação dos três últimos – e anêmicos – discos do grupo, a trilogia Uno! Dos! e Tré! (2012) A Campanha de marketing em cima de Revolution Radio, além dos dois singles lançados, Bang Bang e a própria faixa título, fazia do disco a tão sonhada, pelos fãs, volta às origens do grupo.

Eis que California e Revolution Radio enfim foram lançados! E como ambos discos se saíram?

California – Blink-182
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Podemos afirmar, sem medo algum, que California é uma continuação de Take Off Your Pants and Jacket (2001), considerado por muitos o último grande disco do Blink-182. O que se ouve no novo álbum é uma colcha de retalhos que costura as melhores nuances sonoras do grupo, de um lado o Hardcore veloz, graças a técnica apuradíssima do baterista Travis Barker, já explicito na curtíssima faixa de abertura Cynical, continuando em The Only Thing That Matters, que relembra em partes a canção Roller Coaster do já citado Take Off Your Pants…, e encerrando o álbum com Brohemian Rhapsody. Do outro lado, temos aquele Poppy Punk, claramente influenciado em Descendents, que sempre permeou na carreira do trio e gerou os seus maiores hits, e em California não seria diferente, o single Bored to Death, seguidos de She’s Out Her Mind, No Future, Kings Of The Weekend e Rabbit Hole, são as provas concretas. E por fim, aquela sonoridade madura que pipocou em no supracitado TOYPAJ e que foi “cama, mesa e banho” do autointitulado de 2003, surge no novo disco, mas dessa vez como um ingrediente que vem a somar e dar consistência ao produto final. Faixas como Los Angeles, Sober, Left Alone e San Diego, usam e abusam de elementos eletrônicos, mas carregam uma beleza e autenticidade.
A estreia de Matt Skiba foi certeira no disco, como guitarrista ele manteve os já conhecidos timbres que soam agradáveis aos ouvidos dos fãs da banda. E na parte vocal, em alguns momentos a sua voz relembra os bons momentos de Tom DeLonge, como em Cynical e Bored to Death. Mas em She’s Out Her Mind e principalmente em No Future ele imprime a sua própria identidade musical, mostrando que tem muita lenha a queimar com o grupo, para nossa alegria.

Revolution Radio – Green Day
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A Rolling Stone gringa estampou o Green Day na capa dizendo que a banda havia voltado ao Punk Rock. A página oficial da banda, no Facebook, postou a imagem da capa do disco, um rádio explodindo, o que fomentava ainda mais a ideia que estaríamos diante do álbum mais pesado do grupo desde Insomniac (1995), e os dois singles lançados do disco, Bang Bang e Revolution Radio não tinha mais nada a provar: O bom e velho Green Day estava de volta.
Só que aí o Revolution Radio saiu, e após uma audição cuidadosa a conclusão que chegamos é que temos o mesmo Green Day megalomaníaco e grandioso (no mal sentido) desde American Idiot. O grupo continua preso na formula musical criada por si, desde o lançamento supracitado, e não consegue mais se libertar das próprias amarras.
Aquele Green Day que emulava Ramones, Hüsker Dü, The Replacements, hoje mergulhou de cabeça no Rock de Arena inglês de The Who, Beatles e Queen, e tenta a todo custo parir a sua obra-prima. As referências citadas são imunes de reprovação, mas dentro do contexto sonoro proposto pelo Green Day, desde o início da carreira, elas soam plastificadas, forçadas e com ares de “precisamos conquistar todos os públicos, custe o que custar”.
Revolution Radio já abre desanimado com a pseudo-balada Somwhere Now, iniciada no violão e com uma explosão no meio que entrega um bom rock, mas nada além disso. Outros momentos deprimentes do disco é Still Breathing, que muito assemelha as Pop Ballads de Katy Perry e Demi Lovato, o Pop Rock inofensivo reaparece na faixa seguinte Youngblood, com direito à corinhos “ôô-ôô” na introdução. Say Goodbye relembra em algumas passagens o hit Holiday, de American Idiot, no entanto, mais devagar e mais pop. E por fim a baladinha Outlaws é digna de piedade.
A formula, já gasta, do grupo de criar epopeias musicais longas e com alternâncias de ritmos, surge aqui em Revolution Radio, com o nome de Forever Now. Ela até começa com um certo entusiasmo e relembrando Green Day circa Nirmod (1997), mas os demais andamentos nada convencionais, adquiridos ao longo dos seis minutos da mesma, o transforma em mais uma canção decepcionante em um disco fortemente mediano.

A imprensa e a indústria musical que sempre deliciou em criar rivalidades entre bandas para fomentar o crescimento e consumo da mesma, seja nos anos 60 com Beatles e Rolling Stones, ou nos anos 90 com Oasis e Blur, no início dos anos 2000 inventou a disputa entre Blink 182 e Green Day aproveitando o momento distinto de ambas, no caso a ascensão do trio de Mark, Tom e Travis com a explosão do disco Enema Of The State (1999), e o limbo que se encontrava o Green Day após a frustrante tentativa de amadurecimento com o diversificado Warning (2000). Na época o Green Day, que tinha muito mais tempo de estrada do que os seus conterrâneos, acabou se tornando a banda de abertura das turnês do Blink 182, o que deu mais margem ainda para uma possível rivalidade, na qual nunca existiu.

Green Day e Blink 182 na turnê conjunta que fizeram em 2002
Green Day e Blink 182 na turnê conjunta que fizeram em 2002

Mas no ano de 2016, diante desses dois lançamentos, no qual ambas bandas se encontram no mesmo patamar dentro da sua trajetória, o Blink 182 levou a melhor!

Até a próxima, Billie Joe!

Entrevistas

O impacto da internet na indústria musical, vira tema de livro

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A internet, a terra sem lei, tem moldado a forma como se lê notícia, como se assiste série e filmes e principalmente como se ouve música. Desde o surgimento de programas de compartilhamento de músicas, como Napster, na virada do milênio, que a indústria musical vem sofrendo uma grande mutação e tem tentado, na medida do possível, se adequar a esse novo mundo.
Mas como está música hoje em dia? É verdade que não há mais artistas de qualidade? O que aconteceu com os bons artistas? Por que as músicas atuais são tão vazias e parecidas? O Rock está próximo do fim? Por que os shows são tão caros? O advento da internet acabou com a música em geral?

Essas e outras perguntas serão respondidas no livro O Impacto da Internet na Indústria e no Marketing Musical, de autoria de César Ricardo Mendes.
Jornalista, professor universitário e músico profissional, César Ricardo Mendes durante meses se dedicou ao tema, realizando pesquisas quantitativas, entrevistas com produtores, empresários e demais pessoas renomadas no meio musical. O fruto desse ambicioso projeto será lançado amanhã em São Paulo, pela editora Multifoco.

E nas vésperas do lançamento, o jornalista bateu um papo com o Fila Benário Music, revelando os bastidores da concepção do livro, traçou um panorama sobre o cenário musical atual, além de nos levar a reflexão sobre o tema Música x Internet.

Confira agora.

 

Como surgiu a ideia de desenvolver esse tema do livro?

Eu sempre soube que um dia escreveria um livro, mas nesse caso específico, surgiu das pesquisas acadêmicas que fiz para as pós-graduações que estudei, somado à minha experiência como consultor de marketing para empresas do meio musical, jornalista no meio musical e músico profissional. E também pela falta de publicações nacionais sobre o tema marketing musical.

Como foram realizadas as pesquisas? Quais foram as principais fontes consultadas e que contribuíram para o formato e direcionamento do trabalho em si?

As pesquisas foram de várias formas. Entrevistei diversos músicos, produtores musicais e proprietários de empresas de equipamentos musicais que pudessem contribuir com todo assunto. Também parti para a pesquisa quantitativa, entrevistando pessoas sobre o consumo musical, o quanto a internet os afetou e coisas do tipo. E pesquisei em muitas revistas musicais, blogs americanos, documentários sobre o impacto da internet (principalmente sobre o Napster) que pudessem servir como forma de juntar tudo o que eu havia conseguido para fazer essa análise descrita no livro. Foi um trabalho de alguns meses, mas que valeu a pena.
E trabalhar no meio, tanto como músico como profissional de comunicação, faz com que você tenha uma visão de dentro do assunto. 

O jornalista, músico e escritor César Ricardo Mendes
O jornalista, músico e escritor César Ricardo Mendes

Falando no Napster, no final dos anos 90 houve toda aquela polêmica envolvendo a banda Metallica e o citado programa de compartilhamento musical. Muitos criticaram a postura da banda – principalmente do baterista Lars Ulrich – afirmando que a mesma já havia ganhado muito dinheiro com a indústria fonográfica. Analisando hoje a crise da indústria fonográfica, você acha que a atitude da banda foi correta?

Isso é algo curioso. Pablo Picasso tinha uma afirmação interessante: “Todo mundo que é contra uma vanguarda, na verdade faz parte dela”. No caso do Metallica, vejo por dois ângulos. Primeiro, se eu fosse um astro do rock na década de 90, vivendo com todos os louros que a indústria fonográfica permitia, sem dúvida alguma eu não iria gostar de que mexessem na minha fonte de renda. Nesse sentido eu compreendo a atitude dos caras do Metallica.
Segundo ângulo, eu poderia ser menos provinciano e tentar fazer daquilo um marketing para a minha banda, o que de certa forma me abriria novas formas rentáveis de lucrar. Até porque a tecnologia é algo que sempre se move para frente, nunca para trás, por isso é difícil lutar contra ela.
Há pouco tempo o Lars Ulrich afirmou se arrepender do levante que fez contra o Napster, o que achei interessante e até humilde da parte dele em se arrepender de toda briga. Mas acho que ele também teve uma motivação midiática para fazer o levante que fez na época.

Você acredita que devido ao novo consumo de música, por meio digital, tem contribuído nos últimos tempos para o aumento de artistas de qualidade musical duvidosa?

 Sem dúvida alguma.
Quando as gravadoras e os produtores musicais estavam no comando havia um certo critério de escolha e produção, e mesmo com aquele critério já existiam coisas ruins. Mas se você observar, até mesmo estilos musicais mais populares, como o sertanejo, tinham melhor qualidade (compare Chitãozinho & Xororó com os sertanejos atuais).
Ao mesmo tempo que ficou mais fácil se lançar como artista, o filtro de qualidade também “abriu o funil”. E o critério artístico de qualidade se perdeu um pouco, seja no Brasil ou em qualquer outra parte do mundo.

Pra você, o encarecimento dos ingressos de shows e espetáculos musicais é fruto do impacto da internet no meio musical?

Essa é uma questão que afeta mais diretamente a nós, brasileiros. Em nosso país o ingresso para um show nunca foi barato. Eu sempre fui frequentador de shows e nunca me lembro de ter pagado barato num ingresso.
Como nossa situação econômica é muito instável e o dólar está nas alturas, sofremos também com o abuso dos organizadores de eventos que precisam lucrar no investimento feito para a realização de um show, por isso nossos ingressos são tão caros.
Mas eu me lembro que em 2013, quando eu estava nos Estados Unidos, vi que teria um show do John Mayer na cidade onde eu estava, por um valor de ingresso que seria em torno de R$150,00 aqui no Brasil. Não estou dizendo que R$150,00 é pouco, mas perto dos R$360,00 cobrados para ver um show internacional atrás de um “pilar”, como é o caso no Brasil, sem dúvida a diferença é grande.
Acho que embora o artista, atualmente, lucre com o show ao invés da venda de CDs, essa questão é mais econômica do que de responsabilidade da internet. 

Você faz parte de uma banda, a Tehilim Celtic Rock. Queria que você nos contasse um pouco da experiência da banda em relação a distribuição dos seus próprios discos. Houve a possibilidade de estender a distribuição para o exterior? E analisando o mercado musical independente atual, se esse tipo de coisa ainda é possível nos dias de hoje para uma banda iniciante?

Como com a minha banda, o Tehilim Celtic Rock, minha experiência é pós-advento da internet, não consegui ter os benefícios desse tipo de distribuição. Algo curioso que me aconteceu sobre as facilidades da internet, foi que certa vez eu estava no centro de São Paulo, e vi um camelô vendendo diversos CDs piratas ali, e entre aqueles CDs estava o meu! Eu fiquei com tanto ódio, que cheguei na minha casa, liberei tudo para download gratuito e como estava passando por um período ruim com a distribuidora de CDs, rompemos o contrato.
Já tem uns quatro anos que faço uso de plataformas como o NoiseTrade para lançar meus CDs virtualmente e gratuitamente. A experiência tem sido muito boa, principalmente no que diz respeito ao mercado internacional, que é maioria que baixa nossos álbuns.

César e Jaqueline Massagardi a frente da "Tehilim Celtic Rock"
César e Jaqueline Massagardi a frente da “Tehilim Celtic Rock”

De qualquer forma, acho que não tem como ser um artista adaptado nos tempos que vivemos sem estar presente nos serviços de streaming (Spotify, Deezer, Google Play etc.). É um investimento que vale a pena.
Fora isso, toda banda precisa estar presente no Youtube, pois é o primeiro lugar onde a maioria das pessoas procuram conhecer uma banda (conforme pesquisas realizadas). Pode ser que futuramente procurem mais pelos serviços de streaming? Claro que pode. Mas por enquanto o Youtube é o “cara”.
Se a banda tiver esse empenho, acredito que é muito possível conseguir um certo público consumidor da sua música. 

Com as recentes mortes de Scott Weiland (Stone Temple Pilots), Lemmy Kilmister e David Bowie, a imprensa musical especializada escreveu que a ida desses, e demais, ícones do Rock somados a não existência novos artistas no mesmo impacto artístico, faz do Rock, daqui alguns anos, um estilo fadado ao ostracismo, assim como o Jazz. Você também compartilha desse pensamento?

Acho difícil o rock cair no ostracismo por toda história que existe por trás dele. A grande verdade é que até mesmo o pop existe por causa do rock. Essa enorme segmentação de estilos musicais que temos hoje em dia, lá atrás, na década de 1960, nasceram do rock.
Porém, sempre tem uma questão que levanto: Quem é o grande nome do rock surgido nos últimos 15 anos? É complicado responder essa pergunta, pois até mesmo o Coldplay (que é mais pop do que rock), tem mais de 15 anos! Infelizmente, e por causa de tanta segmentação que o rock tem, não temos um grande nome que seja unanimidade entre as pessoas. Até mesmo o Michael Jackson que era um artista pop, era uma unanimidade entre os rockers!!!
Talvez, o rock sobreviva de muitas bandas surgidas e que surgirão cada uma fatiando seu pedaço do bolo (e assim não morrerá), mas no que diz respeito a existência de um grande nome, pode ser que fiquemos somente nos livros de história. É duro, mas temos que encarar essa verdade.

A figura do produtor musical tem mudado no decorrer dos anos, De mentes brilhantes como Phil Spector, George Martin, Rick Rubin e Steve Albini, que além de engenheiros de áudio eram compositores e instrumentistas, o produtor hoje está mais focado na questão administrativa e empresarial do artista. Esse assunto também é discutido no seu livro? Como você analisa a produção musical hoje com o advento da internet?

 No livro eu faço essa análise fazendo uma ligação com o papel da gravadora. Se você observar, esses grandes produtores são fruto de grandes gravadoras como a Atlantic, EMI, Warner, Sony, Geffen, Motown e tantas outras de extrema importância.
A figura da gravadora era um “pacote completo”, com produtor musical, trabalho de marketing, personal stylist e todo tipo de coisa possível. A independência artística era quase nula, porque o artista tinha um direcionamento completo para absolutamente tudo em sua vida.
Caras como Bob Rock (Metallica e Mötley Crüe) e Rick Rubin (Red Hot Chili Peppers, Johnny Cash e Black Sabbath) tem um histórico de assinar alguns dos maiores trabalhos do rock. Sem dúvida o “dedo” artístico desses caras foi fundamental.

Rick Rubin (deitado ao fundo) produzindo o Black Sabbath
Rick Rubin (deitado ao fundo) produzindo o Black Sabbath

Eu já tive a oportunidade de trabalhar com produtores musicais na gravação de CDs para os quais fui contratado como guitarrista. Já trabalhei com produtores que sabiam música, sabiam o que fazer para melhorar, e também já peguei uma série de “pangarés” que tinham um título de produtor musical, mas mal sabiam o que fazer no estúdio. E infelizmente, hoje em dia existem muitos desses “pangarés”.
Mas é óbvio que ainda existe a figura do produtor musical, só que boa parte desses caras se resumem a donos de estúdio que vendem o trabalho de gravação e nem todos eles, de fato cumprem a função de um produtor musical (a não ser que você o contrate para essa função). O que acaba fazendo com que nem todos os trabalhos tenham o melhor de si.
Porém, no Brasil mesmo existem uma série de produtores musicais excelentes (conhecidos e desconhecidos), sendo contratados e fazendo trabalhos de qualidade excepcional. Entre eles eu cito o Paulo Anhaia, que é um cara excelente e conhecido no meio nacional.

No ano passado a indústria musical respirou aliviada com as vendas do novo disco da cantora Adele (que só na primeira semana no Reino Unido vendeu um total de 800 mil cópias, batendo o recorde da banda Oasis em 1997 com o álbum Be Here Now, que na primeira semana vendeu 696 mil). Você acredita em futuro otimista para a indústria musical e fonográfica, mesmo com a proliferação da internet?

Uma coisa devemos observar: o hábito de comprar CDs online (que é de onde vem a maioria dessas vendas) é muito mais comum no exterior do que aqui no Brasil. Comprar pelo iTunes ainda é caro para o brasileiro, sem falar que os produtos da Apple beiram o absurdo em nosso país. Esse tipo de coisa intimida a compra online.
Eu acredito que se houver uma adequação desses valores para os diferentes mercados mundiais a venda de músicas pode crescer. Mas, atualmente ela tem um inimigo legal, que são os serviços de streaming (onde a maioria dos usuários permanecem com contas gratuitas ao invés de pagar pelo “premium”).
Eu sou saudosista no que diz respeito a CDs, sinto falta do físico, do encarte e de tudo o que acompanhava a audição. A qualidade também era melhor do que o MP3 que nos adequamos a ouvir (obs: no iTunes os álbuns, em sua grande maioria, não estão no formato MP3).
Particularmente, e posso até me enganar, mas acho que o futuro dos álbuns está nas mãos do streaming.

O crítico musical Regis Tadeu, disse certa vez que: “O melhor da música brasileira atual não está no mainstream e sim no circuito underground”. Você concorda com tal afirmação? Se sim, cite quais as bandas e artistas que mais te chamou atenção nos últimos tempos.

Embora o Régis Tadeu seja extremamente ácido em suas colocações, eu gosto muito das coisas que ele fala. E eu concordo com essa afirmação.
Temos uma quantidade enorme de boas bandas totalmente desconhecidas da maioria das pessoas, mas que fazem um trabalho com nível internacional. Nesse caso, eu poderia até mesmo “puxar sardinha” para a minha banda, o Tehilim Celtic Rock, que com 10 anos de estrada, tocando celtic/folk/rock, jamais saiu do underground.
Entre essas bandas underground nacionais, eu gosto muito o pessoal do Terra Celta, que faz um trabalho incrível dentro do estilo. E também acho muito bom o trabalho do meu amigo André Moraes, que faz um MPB na linha do Lenine, que é de qualidade altíssima. Eu poderia citar também o pessoal do Project 46, que hoje estão na crista da onda do metal nacional.

Agora que o livro será lançado, quais serão os seus projetos de divulgação do mesmo? Pretende palestrar ou ministrar cursos a respeito do tema?

Por eu ser da área de comunicação – além de ser músico –, palestrar é algo que já faço em diversas empresas através do DUO in Workshop, trabalho de palestras corporativas que tenho com a minha esposa.
No caso do livro, espero realmente conseguir palestras dentro do tema proposto, ainda mais, se considerarmos que quase não existe literatura dentro desse tema no Brasil. Obviamente, isso não faz com que eu me considere uma sumidade no assunto, de forma alguma. No livro, fiz questão de citar meu amigo Célio Ramos (dono do EMT – Escola de Música e Tecnologia –  e um conceituado profissional de marketing), que é uma pessoa que considero como um dos mais hábeis no assunto.
A Multifoco Editora também fará um trabalho de divulgação interessante, principalmente em livrarias e eBook. Acho que nesse momento, estou aberto para diversas propostas sobre o livro, desde palestras até cursos e o que mais vier.

Lançamento do Livro: O Impacto da Internet na Indústria e no Marketing Musical
Local: La Quiche Bistrot – Rua: Artur de Azevedo 657 – Pinheiros – SP
Horário: 13h às 17h

Especial, Fila Benário Fala

7 anos de Fila Benário Music

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No ano de 2009, um jovem e frustrado estudante de logística decide colocar um ponto final na sua infelicidade profissional, amorosa, e qualquer outra que o valha, criando um blog musical como passatempo.

Longe de pretensões empresariais e status, o humilde espaço, hospedado em uma plataforma gratuita, seria apenas um refúgio daquele jovem azarado que buscava ali um recanto de paz para escrever sobre as suas bandas, discos e canções favoritas.

Sem regras, sem qualquer compromisso e muito menos sem linha editorial a seguir, o diário musical era pra escrever apenas o que desse na telha, sem revisão ortográfica, sem filtro, sem nada. Se ele iria longe? Provavelmente não, afinal de contas, nada na vida desse garoto durou muito tempo.

Corta! Ano de 2016, sete anos do blog Fila Benário Music, se eu pudesse voltar no tempo e dizer para aquele garoto desanimado que a vida dele mudaria de ponta cabeça por causa desse simples blog, será que ele acreditaria?

Em sete anos foram 246 posts, 297 comentários e mais 20 mil acessos, números pequenos comparados a grandes portais e blogs com viés mainstream. Mas grandes levando em consideração todo o “establishment” independente no qual o blog vive, sem patrocínio, sem lei rouanet, apenas com divulgação no boca a boca.

Esse singelo espaço que coleciona amigos, alguns desafetos e inúmeros leitores fieis tem muitas histórias pra contar, e fazendo jus aos sete anos que comemoramos nesse dia 4 de agosto, se eu pudesse listar os 7 momentos mais marcantes do Fila Benário Music, seriam esses:

1 – Professores analisam letras do Dead Fish e a banda aprova

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Com certeza o texto “O Hardcore da educação”, professores analisam as letras do ‘Dead Fish’ foi o mais lido de toda a história do Fila Benário Music, só no primeiro dia ele alcançou o histórico número de 10 mil visualizações. Mas pra quem não sabe, a história por traz do mesmo é curiosíssima.

A ideia inicial era convidar todos os meus professores da faculdade, e mais alguns professores amigos, para interpretar e dar a visão em cima de diversas letras de Hardcore. Além do Dead Fish, bandas como FISTT, Hateen, Dance Of Days, Ratos de Porão, Anzol, Street Bulldogs, Nitrominds e muitas outras teriam as suas letras destrinchadas pelos profissionais da educação. No dia 15 de outubro, dia dos professores, o texto iria ao ar.

Só que pra minha frustração, a data foi se aproximando e nada de ninguém me entregar as análises, teve quem recusou o convite alegando falta de tempo, teve quem ficou empolgado no início, mas depois desistiu ao receber a música e ver que não se tratava de um Legião Urbana ou U2, e teve quem simplesmente sumiu do mapa. Enfim, eis que chegou o dia 15 de outubro e eu recebi apenas cinco análises e curiosamente todas eram de músicas do Dead Fish, sem pretensão acabou virando um texto especial do Dead Fish. Mas o certo por linhas tortas deu certíssimo, as análises foram perfeitas, os professores participantes entenderam o espírito da coisa escreveram relatos emocionantes e contestadores, e pra nossa alegria o texto chegou até a banda, que compartilhou em suas redes sociais e ampliou ainda mais o número de leitores.

Valeu Michele Escoura, Luiz Antônio Farago, Ana Paula Vieira de Oliveira, Ricardo Roca e Patrícia Paixão pela parceria.

2 – Reintegração de Posse em SP

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No ano de 2014, uma reintegração de posse no centro de São Paulo é televisionada ao vivo e divide opiniões da população. Em casa, impedido de ir para faculdade, que estava situada no meio do cenário de guerra, eu acompanhei todos os boletins e reportagens ao vivo. Aquele acontecimento foi me consumindo de tal forma que eu também me senti na obrigação de expor a minha opinião acerca do tema e disso nasceu o texto As músicas que retratam a reintegração de posse ontem em São Paulo.

Um texto tão especial que inspirou um trabalho acadêmico e posteriormente a minha indicação para o prêmio Intercom Sudeste em 2015, na categoria “Artigo de Opinião”.

3 – Entrevista com a Bruna Caram

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A minha primeira entrevista oficial para o FBM foi com a banda Rosa de Saron, mas como eu já conhecia os integrantes e já havia conversado com os mesmos em outras oportunidades, nos tempos que a banda dividia os palcos e a estrada com a minha banda na época, o Nazarenos HC, a entrevista foi um bate-papo bem descontraído e um reencontro. Podemos dizer que a primeira entrevista mesmo, já como estudante de jornalismo, foi essa com a Bruna Caram.

Bruna Caram era uma das atrações da Virada Cultural Paulista em Jundiaí, a minha cidade natal. Como grande admirador do trabalho dela, munido de perguntas e com o meu gravador eu fui lá entrevista-la. Bateu nervoso, medo, insegurança, tudo ao mesmo tempo agora, mas a paciência, o carinho e a compreensão se Bruna deixou tudo leve e tranquilo, como se fosse um bate-papo na cozinha de casa. Em determinado momento da entrevista, ao ser questionada se ela gravaria uma música do cancioneiro brega, Bruna pegou na minha mão e cantou um trechinho de Indiferença da dupla Zezé Di Camargo & Luciano. Em tempos que “astro” pop assedia repórter dizendo que “quebraria a mesma no meio”, Bruna Caram manifestou amor, carinho e respeito o tempo todo.

E ainda compartilhou a entrevista em suas redes sociais.

Ler a entrevista completa aqui

4 – Entrevista com o Dead Fish

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Antes da explosão do texto sobre analise das letras, eu tive a honra e privilégio de entrevistar Rodrigo Lima e Alyand do Dead Fish para FBM, após o show da banda em Jundiaí em Abril de 2015.

Rodrigo que é conhecido pelo seu jeito intransigente e difícil de lidar, quebrou todos esses “pré-conceitos”, nos dando uma aula de história, sociologia e falando abertamente sobre qualquer tema que lhe era questionado.

Ler a entrevista completa aqui

5 – Ultraje a Rigor e Raimundos, o embate do século no FBM

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No ano de 2012 as bandas Raimundos e Ultraje a Rigor lançaram o disco “O Embate do Século”, com uma banda tocando um clássico da outra. O resultado foi sensacional e acabou entrando na lista dos melhores do ano do FBM. Mas quem imaginaria que anos depois eu teria a oportunidade de entrevistar Ultraje e Raimundos? Pois bem, a façanha aconteceu.

O Roger Moreira eu entrevistei no ano de 2014, durante a apresentação do Ultraje na Virada Cultural de Jundiaí. Assim como Rodrigo Lima, Roger também é conhecido pelo seu jeitão intransigente e sem papas na língua, mas a entrevista transcorreu super bem, com um Roger empolgado respondendo as perguntas sobre a sua carreira e influências musicais. E no final ele agradeceu pelo bate-papo e pediu para que lhe enviasse a entrevista completa.
Ele compartilhou em suas redes sociais.

E o Raimundos eu entrevistei no ano seguinte, na passagem da banda pelo Sesc Jundiaí, na turnê em comemoração aos 20 anos de carreira. Canisso, o baixista e um dos fundadores do grupo, esbanjou simpatia e boa vontade durante todo o bate-papo. Dado um momento ele me interrompeu dizendo: “Eu não preciso responder mais nada, esse menino sabe tudo sobre a minha carreira”.
A página oficial do Raimundos no Facebook compartilhou a entrevista.

Ler a entrevista completa com o Raimundos aqui
Ler a entrevista completa com o Ultraje a Rigor aqui

6 – Jornalistas renomados escrevem texto especial

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Em meio à confusão generalizada que se encontrava o cenário político brasileiro no primeiro semestre de 2016, eu entrevistei alguns jornalistas, blogueiros e demais intelectuais perguntando: “Qual a trilha sonora desse momento tão caótico”, o resultado foi grandioso e gerou o texto As trilhas sonoras da guerra política brasileira contando com Adriana Carranca, Vitor Guedes, Patrícia Paixão, Fausto Salvadori Filho, Cinthia Gomes, Juliana Almeida, Ricardo Roca, Luíza Caricati, Patty Farina, Caroline Apple e Matheus Pichonelli.

7 – 50 tons de cinza

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Durante a semana da estreia mundial do filme Cinquenta Tons de Cinza, eu estava inconformado com o fato de um filme, baseado em um livro, no qual a protagonista apanha descaradamente de um homem, ser aclamado e aguardado com tanto fervor em um país que a cada três segundos uma mulher é agredida.

Para minha alegria, a minha parceira de escrita, Beatriz Sanz, também compartilhava do mesmo sentimento. Unimos forças e juntos escrevemos o texto 50 Tons de cinza + o desabafo de uma feminista. Eu levando a discussão, como sempre, para o viés musical, e a Beatriz Sanz, feminista ferrenha, chutou o pau da barraca e fez uma reflexão incrível.

Foi o quarto texto mais lido no FBM em 2015.

DEPOIMENTO DAS ETERNAS COLUNISTAS DO FILA BENÁRIO MÚSIC

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Parabéns pra você, nessa data de vida!!! E aí leitores do Fila Benário, todo mundo com saudade? Pois é, nós também. Sabemos que o blog tem ficado meio sozinho, mas é que estamos muito ocupados na vida (nos perdoem). Mas o aniversário do blog não ia passar em branco e eu queria dizer como esse blog e seu criador mudaram minha vida. Nunca fui capaz de manter meu próprio blog, então pedi uma coluna aqui. Foi quando eu comecei a escrever de verdade e a ter comprometimento. Passei a ouvir músicas diferentes e pensar em pautas de cultura. Viajei para o interior por conta de uma entrevista. Obrigada, FBM! Queremos pedir aos fiéis leitores que vocês continuem nos acompanhando. Há qualquer momento, quando vocês menos esperarem a gente dá as caras por aqui!

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Beatriz Sanz é jornalista na Revista Fórum e colunista na Huffpost Brasil

 

 

O que eu carrego do Fila Benário?

Não contribuo para o Fila Benário há algum tempo. Talvez por falta de tempo ou por excesso de trabalho, fui gradualmente parando de escrever sobre música. Vou menos a shows e só ouço meus álbuns preferidos enquanto realizo outras tarefas. Isso é triste, sabe?

Ainda me lembro vividamente de estar frente a frente com Johnny Marr, carregando apenas um bloquinho de anotações e toda a uma carga de admiração. Quando sentei para digitar sobre o festival, despejei sobre os teclados a gratidão de ter vivido aquele dia. Eu, estudante de jornalismo recém-saída do ensino médio, ostentava orgulhosamente uma credencial de imprensa com o nome do primeiro veículo que me deu voz. Curiosamente, esse foi o meu último texto enviado.

Resenhar o que a gente gosta tem um gostinho diferente. Livre de burocracia, deixamos que as palavras ganhem forma, textura, cheiro e movimento. Somos coagidos ao prazer da escrita pela escrita. Simples assim.

Sinto falta desse descompromisso compromissado. Pelo menos posso dizer que não carrego o Fila Benário apenas no meu portfólio. Cada estrofe que eu redigi construiu um pedaço da minha formação.

Larissa

 

Larissa Darc é jornalista na revista Nova Escola

Fila Benário Fala

10 bandas nacionais que você PRECISA conhecer!

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E tirando as teias e a poeira desse fétido espaço, que hoje nessa data tão importante, comemorada apenas no Brasil (chupa essa, resto do mundo), o Dia do Rock, que eu faço uma singela listinha de 10 bandas que você NECESSITA conhecer. Claro que você não ouviu nenhuma música delas em trilhas de novelas ou em comerciais de cerveja, até porque, meu amigo, se você está procurando boa música no mainstream, você está procurando no lugar errado.
A cena independente tem vivido um dos seus momentos mais prolíferos e com bandas fantásticas e autênticas, portanto separei aqui as 10 que mais me chamaram atenção nos últimos cinco anos. Vale e muito a pena conhecer o trabalho de cada uma.

1 – ILLBRED
1 - Illbred
Talvez o mais veterano dessa lista, o Illbred tem 20 anos de estrada. Formado em Paranaguá (PR), hoje o quarteto composto por Fábio Magronne (Vocal e Guitarra), Dom Murylo (Guitarra), Edsan Rozano (Baixo) e Rodrigo Saif (Bateria) não se prende apenas nas amarras do Hardcore Melódico, mas ousa por outros caminhos do Rock, como o Grunge, o Heavy Metal e claras influências dos anos 80. O seu mais recente trabalho, o disco Livre! (2015), já rendeu três videoclipes, como: A Estrada, Depois do 30 e Viver Longe Daqui.

2 – SALLYS HOME
2 - Sallys Home
Formada em Jundiaí (SP), a Sallys Home passaria facilmente por uma banda californiana. O Seu som veloz e ensolarado remete a bandas marcantes do gênero, como o Descendents, NOFX e Blink 182 (fase Dude Ranch). Contando com Ricardo Drvz (Vocal e Guitarra), Danilo Braga (Guitarra e Backing Vocals), Fábio Castel (Baixo e Backing Vocals) e Evandro Salmeirão (Bateria). O grupo tem dois EPs: Waiting For Destruction (2008) e Summer (S)hit (2011) e no ano passado lançou o seu primeiro álbum completo, Melody Station. E hoje, no Dia do Rock, a banda lança o clipe da música Don’t Follow Them, curta aí em primeira mão.

3 – CHCL
3 - CHCL
Se Mark Arm e Dan Peters do Mudhoney se juntassem com Darby Crash e Pat Smear do The Germs, o resultado seria essa fabulosa banda. O CHCL (abreviação de Chacal) faz um Punk Rock direto, sem frescura, firulas, com vocal rasgado e letras que retratam os problemas do cotidiano. Nascida em Caçapava (SP), a banda é formada por Gustavo Magalhães (Vocal e Guitarra), Diego Xavier (Guitarra e Vocal), Diego Esteves (Baixo e Vocal) e Eder Penha (Bateria). Em 2015 a banda lançou o primeiro full, o pesadíssimo Espora, mas não deixe de conferir o primeiro registro do grupo em estúdio, o EP Inacabado (2013), na época que o mesmo era um Power Trio.

4 – DISORDIA
4 - Disordia
Se a sua linha sonora é o Real Emo dos anos 90 que mesclava melodia, velocidade, berros e guitarras distorcidas, sem o bundamolismo que assolou o gênero na metade dos anos 2000, a sua banda de cabeceira será o Disordia. Também de Jundiaí (SP) e com dez anos de atividade, o quarteto formado por Renan Sales (Vocal e Guitarra), Fernando Oska (Guitarra), Matheus Caccere (Baixo) e Matheus Risso (Batera) traz aquele som agridoce de Samiam, Hot Water Music, Jawbreaker e Lifetime. Resolução, o mais recente trabalho do grupo, foi lançado no início de 2016, via Oba! Records, e conta com a participação especial de Chinho, da banda Chuva Negra, nos vocais de Homem Bomba.

5 – THE GUANTANAMEROS
5 - The Guantanameros
Esqueça tudo que você já ouviu em matéria de Rock, porque o The Guantanameros vai explodir a sua cabeça e te colocar pra bailar. Formado por Nacho Martin (Vocal, Ukulele, Banjo e Bandolim) – um autêntico Guantanamero argentino – a banda ainda conta com Felipe Seda (Guitarra), Luiz Reche (Baixo), Diogo Rampaso (Trompete, Escaleta e Charango), Kaoei Couto (Percussão) e Lucas Blinhas (Bateria e Cajón). O grupo, que completou recentemente um ano de atividade, tem uma sonoridade única e plural, passeando pelo Ska, Hardcore, Reggae, Country, Hip-Hop e música latina, além de cantar em inglês, português e espanhol. No início de 2016 o grupo lançou o seu primeiro EP, Parte #01 e no dia 17 próximo vem a Parte #02. Mas enquanto esse dia não chega, ouça o mais recente single do grupo Don’t Cut The Mullets.

6 – METAMORFFOSE
6 - Metamorffose
Já falamos dessa banda aqui, mas tudo que é bom vale ser relembrado. Também de Jundiaí (SP), o grupo faz aquela linha musical oitentista, resgatando aquele frescor nacional de Biquini Cavadão, Barão Vermelho, Titãs e Capital Inicial. Contando com Nick Moraes (Vocal), Renato Torelli (Guitarra), Guilherme Bianchini (Guitarra), Lê (Baixo) e Fernando Arouche (Bateria), a banda tem um álbum, Pretérito Imperfeito (2014), produzido pelo próprio baterista e lançado de forma independente, e no ano passado integrou a coletânea New Acts produzida pelo Rick Bonadio, com as canções Eu Sou o Vento e Punhos Atados.

7 – PLEASE COME JULY
7 - Please Come July
Se por um lado é a banda mais bebê da nossa lista, sendo formada esse ano, por outro lado, se somar as experiências de cada um dos integrantes dá mais de 30 anos de atividade. O Please Come July vem diretamente da cidade maravilhosa com line up de causar inveja, com Marcus Menezes (Sorry Figure) na Guitarra e Voz, João Veloso Jr. (White Frogs) no Baixo e Voz, além do baterista Felipe Fiorini (Plastic Fire). O som do grupo é um passeio pelo Rock Alternativo dos anos 90, mas um nome, em especial, é a principal influência e norte do grupo: Bob Mould.
Com letras em inglês, o grupo prepara o lançamento do seu primeiro EP, Life’s Puzzle, que verá a luz do sol no final de julho. Enquanto esse dia não chega, bora curtir o primeiro single do disco: A Lot Of Things.

8 – GASOLINE SPECIAL
8 - Gasoline Special
Lemmy Kilmister se foi sem ouvir essa pedrada cavalar sonora, que com certeza seria a sua banda favorita. Também de Jundiaí (será que temos uma nova Seattle brasileira?) o grupo, que hoje se consiste em um power trio formado por André Bode (Vocal e Guitarra), Rodrigo Faria (Baixo e Backing Vocal) e Junior Scalav (Bateria e Backing Vocal), faz um rock visceral e sujo, com claras influencias de Motorhead, com algumas passagens de Jimi Hendrix e um encontro perdido com o Nirvana na fase Bleach. As letras, todas em português, são o grande trunfo do grupo, vão desde críticas ao novo rock consumido pela massa, como em 2000 e Foda-se, até temas mais sacanas e picantes, como Tesão Fudido em Você.

9 – SKY DOWN
9 - Sky Down
Fazia tempo que a cena independente não apresentava algo tão forte, libertador, consistente e barulhento como o Sky Down. Bebendo da fonte da mesma fonte do CHCL, o grupo paulista formado por Caio Felipe (Vocal e Guitarra), Amanda Buttler (Baixo) e André Arvore (Bateria) é um misto de The Germs (sua principal influência), com Nirvana (fase In Utero) e Pixies (a fase que você quiser), tudo isso dentro de um Punk Rock barulhento, cantado em inglês, com microfonias e camadas de guitarras que sobressaem a voz. Nowhere (2013), o seu primeiro, e mais recente trabalho, traz o melhor dessa melancolia e insanidade. Vale e muito a pena conferir.

10 – MAD SNEAKS
10 - Mad Sneaks
E por fim, se a sua praia é um grunge bem pesado e denso como o do Alice In Chains e Soundgarden, o seu lugar é aqui. A banda mineira Mad Sneaks apresenta o melhor do som de Seattle e com um grande diferencial (e trunfo): tudo cantando em português!
Composto por Agno Dissan (Vocal e Guitarra), Adriano Lima (Baixo) e Amaury Dias (Bateria), o trio teve o seu primeiro trabalho, o álbum Incógnita (2013), masterizado por ninguém mais, ninguém menos que Jack Endino, o lendário produtor de Bleach, o primeiro disco do Nirvana.

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Homens, precisamos falar sobre a cultura do estupro

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“No último sábado, dia 21, uma jovem, de apenas 16 anos, moradora de uma comunidade no Rio de Janeiro foi covardemente estuprada por 30 homens na casa do seu então namorado.”

Para! Só essas duas linhas já causam repulsa em qualquer ser humano que tenha o mínimo de caráter. Mas tão grave quanto o crime tem sido as opiniões aleatórias expressas nas redes sociais nas quais pessoas tentam justificar o injustificável: “Mas ela morava em uma favela”, como se as condições sociais da garota justificam ela ter sido barbaramente violentada por 30 brutamontes. “Ouvi dizer que ela tinha um filho de três anos já”, “parece que ela usava droga”, e é claro aquele julgamento que extrapola os limites da insanidade humana: “Meu, ela mora em uma favela no Rio de Janeiro, as meninas de lá andam quase nuas, ou com aqueles shortinhos jeans que é mais fácil andar pelada, porque não tampam nada, ela provocou…”

Agora vamos esquecer de vez esses comentários e vamos voltar para o lead da matéria: “Uma jovem de APENAS 16 ANOS”, 16 anos, segundo o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) ela ainda é uma adolescente, não chegou a idade adulta. “Moradora de uma comunidade do Rio de Janeiro foi COVARDEMENTE ESTUPRADA POR TRINTA!!! TRIN-TA!!! HOMENS NA CASA DO SEU ENTÃO NAMORADO”. Precisava escrever em letras garrafais? Estamos diante de um crime: Uma criança foi brutalmente violentada por trinta pessoas e a culpa ainda recai sobre a vítima com pré-julgamentos que nada justificam a ação dos trinta animais covardes, incluindo o seu namorado que arquitetou toda ação, dopando a mesma e permitindo tal carnificina moral e documentando tudo em vídeo que foi divulgado nas redes sociais.

Resumindo, uma criança em situação de vida carente, que mora com os pais na periferia, que foi apenas passar um dia na casa do seu namorado, teve a sua adolescência massacrada fisicamente, moralmente e psicologicamente e a culpa AINDA É DELA?

Se você ainda pensa assim, convido a refletir a letra dessa canção que irei esmiuçar abaixo. Essa já é a terceira vez que essa música aparece em uma postagem aqui (das outras vezes: aqui e aqui), mas dessa vez eu convido a refletir trecho a trecho. Die Die da banda paulistana de Hardcore feminista Dominatrix, foi lançada em 2001 no disco Split Bike, junto com a banda Dance Of Days e anos depois relançada no disco Beauville de 2003. O veloz Punk Rock cantado em inglês com um trecho narrado em português retrata de forma clara, direta e concisa a vida da mulher que sofre com os abusos físicos e psicológicos e ainda tem a culpa recaída sobre si:

Die Die (Dominatrix)

Cinical cinical dumb to the bone, mr. know-it-all
dumb to the bone, and then you tied
to the same old shit, hiding the surface with more radical surface
You think you see the whole thing by knowing a part of it and then
You’re fucking with the wrong girls again

Cínico, cínico, burro até o osso, o Sr. sabe tudo
Burro até o osso
Apegado à mesma velha merda, escondendo a superfície radical.
Você acha que sabe tudo por saber só uma parte
Então você está se metendo com as meninas erradas novamente

A curta estrofe, que é praticamente cuspida com raiva por Elisa Gargiulo, explica claramente a ação dos juízes morais de plantão. Pessoas cínicas que tentam de todas formas justificar o crime brutal sempre apegado as velhas razões radicais. Culpando a vítima pela roupa que ela veste, pelo fato dela morar em uma comunidade carente, por ela ter tido envolvimento com drogas no passado ou até mesmo ter um filho.

Die!! Die bigot scum
We’ll build up our own
Way, we’ll not take it anymore,
Die bigot scum!

Morra! Morra imbecil preconceituoso
Iremos construir o nosso próprio caminho
Não vamos mais aturar isso,
Morra imbecil preconceituoso

O forte e violento refrão é um grito de basta! Não se refere e nem incita uma morte física dos agressores sexuais e os verbais que justificam a violência, mas sim uma morte simbólica, que todos esses ideais preconceituosos e principalmente a cultura de estupro sejam enterrados de uma vez por todas, afinal “não vamos mais aturar isso”.

Seu burro, seu idiota, que antissocial o quê!
Antissocial é uma mulher tentando andar
Numa rua escura à noite.
Que tipo de vida é essa que eu tenho que
F
icar 24 horas por dia alerta igual a um cão-de-guarda?
De quem são os olhos que te vigiam?
De quem é a mão que te ataca?

E nesse trecho narrado em português, Elisa faz um desabafo no qual muitas mulheres irão se identificar. Quantas e quantas garotas não foram assediada no transporte público, na rua, passando em frente a uma construção e ao agir com indiferença, com constrangimento ou até mesmo com raiva e fúria por parte do abusador, não teve que ouvir ainda ofensas do tipo: “Que chata, que antissocial”, mas na próxima frase ela já explica: “Antissocial é uma mulher tentando andar numa rua escura a noite”. O trecho seguinte: “Que tipo de vida é essa que eu tenho que ficar 24 horas por dia alerta igual a um Cão de Guarda?” Traduz o fato de que a mulher tem que estar sempre em alerta, prestando a atenção em tudo e tomar todos os cuidados possíveis para não incitar a violência contra ela mesma. Que ela tem que estar em alerta igual um Cão de Guarda dentro do transporte público para evitar um possível assédio, que ela tem que se policiar melhor em relação a roupa que ela veste, os lugares que ela frequenta, evitar andar na rua a noite. A sociedade joga essa responsabilidade sob os ombros femininos e não cumprimento dessas regras transforma a vítima em réu de um tribunal moral.
E já o trecho final que questiona: “De quem são os olhos que te vigiam? De quem são as mãos que te atacam?” Nos leva a reflexão: Quem é o agressor? A jovem covardemente violentada caiu em uma emboscada planejada pelo próprio namorado, a pessoa que ela compartilhava os seus planos, sonhos, anseios e sentimentos. O monstruoso namorado teve a crueldade de dopar a mesma e dividi-la com mais 29 pessoas. A pessoa na qual a jovem mais confiava, foi que transformou a sua vida em um terrível pesadelo. Os olhos que vigiam e as mãos que atacam estão mais próximos do que podemos imaginar. E quando o assunto violência doméstica contra mulher entra em pauta, como aconteceu no ano passado quando foi tema da redação do Enem, o mesmo é ignorado e tratado como mimimi de feminista e doutrinação esquerdista marxista.

Diante de todo esse acontecimento, diversas manifestações de solidariedade a garota violentada e mensagens de repúdio e asco ao acontecimento em si foram feitas nas redes sociais. E quando as mulheres postavam “Vocês homens são responsáveis”, alguns, inclusive conhecidos meus postavam: “Nem todos os homens são assim, não generalize…”.
Mas sim, a responsabilidade É NOSSA! Não quero afirmar que todos homens são estupradores e que todos os homens do planeta terra cometeu esse crime horrendo com essa jovem garota, mas compactuamos com a violência feminina quando gargalhamos com discursos machistas e sexistas, quando concordamos que o lugar de mulher é na cozinha e do homem é sentado no sofá assistindo um jogo de futebol com a sua cervejinha do lado. Temos responsabilidade quando achamos que sexo sem consentimento da esposa/namorada/parceira não é estupro. Quando compartilhamos vídeos e fotos íntimas de nossas ex-namoradas como um ato vingativo. Somos culpados quando educamos os nossos filhos homens que eles podem fazer o que quiser, mas exortamos as nossas filhas a se comportar como uma dama.
Quando sabemos que o nosso amigo agride a sua namorada e não tomamos nenhuma providência a respeito, nós somos os culpados! Assim também quando vemos a nossa amiga no ambiente de trabalho sofrendo assédio e fazemos vista grossa.
E não adianta nada você homem se solidarizar com a jovem estuprada, mas aplaudir político boçal que homenageia torturador que tinha com principal prática de tortura introduzir um rato vivo dentro de vaginas.

O que precisamos não é se vitimar com a generalização, mas desconstruir o machismo existente dentro de cada um de nós. E assim evitamos situações deploráveis como essa.

Que MORRA a Cultura de Estupro
Que MORRA a violência contra mulher
E que MORRA a culpabilização da vítima.

Fila Benário Fala

A votação do Impeachment em 10 canções

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Após seis horas de votação, na Câmara dos Deputados em Brasília, o processo de Impeachment contra a presidente Dilma Rousseff foi aprovado com 367 votos e encaminhado para o Senado Federal, que tem um prazo de 20 dias para decidir a governabilidade do país.

Não vou me estender em afirmar o quanto esse processo de cassação é um imenso golpe partidário, levando em consideração que quem preside o mesmo é o Sr. Eduardo Cunha, mais citado nas delações da Lava Jato do que frase de Clarice Lispector em Facebook. E nem vou também gastar frases e chistes defendendo um governo que meteu o pé pelas mãos em seu recente mandato ao contar com o apoio de movimentos sociais populares e diversas minorias, mas que preferiu se aliar com o partido mais corrupto da história, o PMDB, que apunhalaria mais tarde.

Mas assistir as seis horas de votação do Impeachment foi um imenso exercício de paciência e estomago forte, afinal de contas, muitos do que estavam ali votando pela cassação do mandato da presidente Dilma, estão envolvidos na Lava Jato, principalmente quem presidia a sessão, o Sr. Eduardo Cunha.

E foi assistindo todo aquele espetáculo circense bancado por nós brasileiros, que veio à cabeça algumas canções que muito tem a ver com aquela pataquada formada.
Portanto atente-se abaixo, aumente o volume e reflita:

1 – Se Gritar Pega Ladrão (Bezerra da Silva e Originais do Samba)

Eduardo Cunha (PMDB), investigado pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, contas na suíça, recebimento de propinas de empreiteiras.
Rogério Rosso (PSD), indiciado por corrupção eleitoral.
Shéridan (PSDB), titulação irregular de terras públicas em benefício próprio.
Marcos Rotta (PMDB), improbabilidade administrativa com danos aos cofres públicos.
Pauderney Avelino (DEM), condenado a devolver 4,6 milhões ao governo do Amazonas por superfaturamento de contratos.
É esse povo que quer tirar a Dilma do poder e acabar com a corrupção no país, ou manter Dilma no poder significa que a Lava Jato continuará e muitos ali que serão caçados?
Como já cantava o malandro Bezerra da Silva em parceria com Os Originais do Samba: “Se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão”.

2 – Corvos do Paraíso (Dance Of Days)

“Pela minha família, pelos meus filhos, pela minha esposa”, “Pelos plantadores de comida, assim não teríamos o que comer”, “Pela minha tia que me criou”, “Pela república de Curitiba”.
Foi um festival de palavras vazias sem conteúdo jogadas ao vento. A hipocrisia reinava naquele ambiente. O segundo mandamento da lei de Deus, que é “Não citar o seu santo Nome em vão”, foi rasgado assim como a constituição brasileira, naquela noite, afinal, uma quantidade sem fim de deputados falando em nome de Deus apoiavam o golpe e varriam para debaixo do tapete a sua corrupção.
Lançada em 2001 no primeiro de canções em português, o seminal A História Não Tem Fim, Corvos do Paraíso do Dance Of Days é um retrato fiel desse momento, das “Palavras malditas e desgraçadas jogadas contra o vento”.

3 – Bonzo Goes to Bitburg (Ramones)

Em 1885, o presidente americano Ronald Reagan visitou, na Alemanha, o túmulo e prestou condolências à “heróis” nazistas da segunda guerra mundial. Tal repugnante ação fez Joey e Dee Dee Ramone compor o grande sucesso dos Ramones, a introspectiva Bonzo Goes to Bitburg, lançada no disco Animal Boy (1986).
Ontem a cena se repetiu no congresso brasileiro, o deputado Jair Bolsonaro (dispensa maiores apresentações) ao declarar o seu voto a favor do Impeachment dedicou o mesmo ao Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos maiores torturadores da ditadura militar. Duvida disso? Veja aqui.

4 – Eu Protesto (Charlie Brown Jr.)

Em um texto passado publicado aqui, a jornalista Juliana Almeida, do Desarmando a Censura, citou essa canção como a trilha sonora do momento atual da política brasileira. Não queria soar repetitivo, mas essa canção tem tudo a ver com a votação de ontem. Quem não sentiu vergonha alheia por aqueles deputados vomitando aquele monte de baboseiras? Me senti envergonhado com o voto de Bolsonaro saudando um torturador, me senti envergonhado quando alguém protestava contra Eduardo Cunha no microfone e assembleia toda vaiava, mas como diz a letra da canção de Chorão: “Foi você quem colocou eles lá, mas eles não estão fazendo nada por você”.
A música lançada no álbum 100% Charlie Brown Jr. Abalando a Sua Fábrica, em 2001, parecia ser profética, já que o refrão da mesma é: “Dormem sossegado os caras do senado. Dormem sossegado os que fizeram esse estrago”, afinal de contas o processo foi encaminhado para o Senado Federal para a aprovação, e lá Aécio Neves, também citado na Lava Jato, José Serra, envolvido no cartel do Metrô paulistano e Renan Calheiros serão os que decidirão o futuro. Portanto, eles dormem tranquilamente.

5 – Ideologia (Cazuza)

Um deputado que diz que as mulheres merecem ganhar menos porque ficam gravidas, que diz que filho homossexual merece apanhar e que jamais entraria em um avião pilotado por um cotista, vota a favor do Impeachment citando um torturador. Um deputado que possuí contas na suíça, que cobrava propina de empreiteiras e que é réu da operação Lava Jato, preside e articula a comissão do impeachment. Na canção analisada anteriormente vimos a lucidez de Chorão ao falar do congresso nacional e toda a sua presepada.
Chorão em 2013 se despediu de nós, perdendo a batalha contra as drogas e sucumbindo a uma overdose de cocaína. Portanto a canção de Cazuza, lançada em 1988, com a emblemática frase: “Meus heróis morreram de overdose, os meus inimigos estão no poder”, nunca fez tanto sentido.

6 – O Tempo Não Para (Cazuza)

Uma imagem do congresso lotado e em cima a frase “A tua piscina tá cheia de ratos” circulou com velocidade, pelos contrários ao golpe à democracia. O trecho retirado da canção O Tempo Não Para, também de autoria de Cazuza, faz muito sentido com o circo armado ontem em Brasília. Mas se fosse pra escolher outro trecho da mesma canção para ilustrar melhor ainda esse momento, ele seria: “Eu vejo o futuro repetir o passado”, afinal de contas, o que aconteceu ali ontem foi o mesmo que aconteceu em 1964, homens falando em nome de Deus e da família, uma presidente eleita democraticamente e sem crimes sendo caçada por parlamentares corruptos. É o passado voltando à tona.

7 – Roda Viva (Chico Buarque)

Quando Chico Buarque compôs essa belíssima canção em 1967, o Brasil já estava na ditadura militar, o AI-5 já estava entre nós privando a liberdade do povo brasileiro. E a roseira que Chico Buarque tanto canta na música é a nossa democracia, é o direito de escolher, e ontem privaram o nosso direito. A vitória que foi decretada democraticamente nas urnas em 2014, foi despedaçada ontem em uma manobra arquitetada por Cunha, por vingança e para se safar.

Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a roseira pra lá
.

8 – Perfeição (Legião Urbana)

E de repente fogos de artifícios! Ué, mas pra quem? É ano novo? Quem marcou gol? Ah, é pelo Impeachment que foi aprovado na câmara dos deputados e encaminhado para o senado. E assim como bons brasileiros: “Vamos comemorar como idiotas, a cada fevereiro e feriado”.
A frase que eu mais ouvi nesses dias que antecederam as votações foram: “Primeiro sai a Dilma, depois tiramos Temer e Cunha”, e para quem proferiu esse absurdo eu canto: “Vamos celebrar a estupidez humana”. Cunha e Temer estão envolvidos na operação Lava Jato, citados na planilha da Odebrecht no recebimento de propinas, com ambos no poder no lugar de Dilma, qual a chance dos próprios moverem um processo pedindo a cassação deles próprios? NENHUMA! Com a saída de Dilma da base governista, Temer e Cunha assumem a presidência, a Lava Jato será barrada e quem é corrupto de verdade estará no poder.

9 – Unicamente (Deborah Blando)

Mas hoje, dia 18 de abril, o dia amanheceu diferente, o ar estava fresco, os pássaros cantaram, e a corrupção, aquela instituída no país no dia 1 de janeiro de 2003, felizmente acabou graças a votação de ontem.
Agora o dólar vai à 1 Real, a gasolina vai custar 50 centavos o litro, os corredores dos hospitais estarão vazios, as multinacionais irão nos ligar de hora em hora oferecendo emprego com salários astronômicos no qual eu serei obrigado a utilizar como critério de desempate quem oferece o melhor plano de saúde.
Como cantava a platinada Deborah Blando: “Raiou o Sol”.
Obrigado, Eduardo Cunha.

10 – Apesar de Você (Chico Buarque)

Na verdade, nebuloso está o nosso país. Para onde iremos? O que será agora da nossa nação? Vamos prosperar ou iremos afundar em um abismo muito pior do que estamos? O segundo mandato de Dilma foi uma sucessão de erros, a economia estagnou, a inflação só aumentou, o desemprego vem ceifando famílias e desespero bate à porta diariamente, mas tirá-la do poder e colocar no lugar políticos que colaboraram com essa situação alarmante que se contra o país é uma saída? Que tal uma reforma política? Ontem em seis horas de votação conhecemos os líderes do povo, os candidatos que também votamos em 2014, mas que fizemos questão de esquecer depois. Eles realmente representam os meus anseios e necessidades? Aliás, tem necessidade de sustentarmos aquela quantidade absurda de parlamentares?
As perguntas são muitas e as respostas ineficientes, mas só sei que “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia”.